sexta-feira, 1 de abril de 2016

Acho que meu marido fez alguma coisa com um dos gêmeos - FINAL PARTE I




PARTE II


PARTE III


PARTE IV


PARTE V


PARTE VI

O final é divido em duas partes, aqui está a primeira...


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Eu tive que tomar um remédio para dormir naquela noite. Depois de engolir o jantar e ligar para Phil, eu sabia que não havia nenhuma maneira de dormir sem intervenção medicinal. Meu despertador me acordaria às 6h, mas eu não precisava dele. Às 05h45min, eu estava de pé e vestida.


Fui até a casa em que eu tinha crescido. Ela ainda não tinha sido vendida, e eu ainda tinha uma chave. Eu me deixei entrar, achando estranho que, literalmente, tudo o que eu tinha vivido em casa por tanto tempo tinha desaparecido. Eu sabia em um nível lógico que tudo havia desaparecido, eu tinha visto os rendimentos do valor da venda dos bens entrar na conta fiduciária. Isso ainda era um choque.


Eu entrei na cozinha, ainda meio que esperando para ver a grande mesa oval. Todos os dias da minha infância eu descia as escadas meio grogue e fazia o meu caminho até a cozinha para o café da manhã. Todos os dias meu pai sentava-se à mesa com sua calça e camisa Oxford, lia primeiro os esportes, em seguida a seção política do jornal, enquanto bebia duas xícaras de café preto. Exceto nos fins de semana, quando ele se sentava em sua calça jeans e tomava outra xícara de café. Ele opinava sobre o quão bem as equipes locais estavam indo, e como os políticos estavam se tornando mais corruptos a cada dia. Minha mãe murmurava parecendo concordar com tudo o que ele dizia ao fazer o meu almoço, então eu sentava lá e comia cereal frio. Eu abri o armário à esquerda da pia e olhei toda a parte de trás. Certamente, lá estava o "NÃO!" que eu tinha rabiscado a lápis quando tinha doze anos; protestando contra a punição que mamãe tinha me dado por ter me pego numa mentira: lavar à mão toda a louça dos armários. Cada prato, tigela, copo, vidro, pote, panela e caçarola.


Entrei na sala de estar, o começo do centro do entretenimento, a marca da mesa de café ainda era visível no tapete. Quantas noites tinha me sentado entre meus pais assistindo a reprises de Carol Burnett? Assim que TV a cabo tornou-se mais facilmente disponível, meu pai se tornou viciado em HGTV e Food Network. Ele gostava de jogar taco no jardim e adorava cozinhar. Ele não era nenhum Emeril Lagasse, mas por Deus, ele tentava. A mamãe adorava dramas sobre crimes. NYPD Blue, toda a série Law & Order, The Shield, Poirot, até mesmo Assassinato Por Escrito. Ela amava todos esses seriados. Lembro-me de meus pais levemente horrorizados quando eu assistia MTV, e meu pai comentando que a minha geração tinha perdido a sua "mente coletiva”. Mamãe tinha empertigadamente informado que eu não colocaria o meu piercing no umbigo "como aquelas meninas na TV" a menos que eu me sustentasse com a minha própria renda.


Com minha mão levemente sendo passada pelo corrimão, caminhei até lá em cima. Como eu me lembrava, o terceiro degrau do topo guinchava, a menos que você desse um passo para a extrema esquerda - uma dica útil quando você está se esgueirando de volta depois do toque de recolher. O banheiro tinha sido repintado pela enésima vez, enquanto eu era criança e adolescente minha mãe tinha repintado e redecorado pelo menos uma dúzia de vezes. O escritório ainda cheirava como uma combinação de livros velhos, fita adesiva e óleo de laranja usado para polir a mesa. Era lá que meu pai se sentava por horas com sua calculadora antiga, olhando o relógio com o cenho franzido. Ele levava o jornal de domingo para seu escritório no andar de cima e meticulosamente recortava cupons para tudo - sabão em pó, carne moída, mistura de bolo, chame como quiser. Se houvesse um acordo para ser feito - você pode ter certeza que ele faria.


Eu me encontrei em meu antigo quarto, ainda pintado com um laranja horrível. Quando eu era aluna do primeiro colegial, eu implorei aos meus pais para me deixar redecorar meu quarto. Usando o dinheiro que eu tinha guardado a partir de trabalhos de verão, eu tinha comprado um jogo de cama laranja com cortinas combinando, um tapete, e repintado meu quarto com a tinta laranja medonha. Na época, parecia legal, mas como adulta ele me deu uma dor de cabeça instantânea. Eu fiz uma anotação para contratar pintores para pintar de branco e ajudar a melhorar o valor de revenda. Para mim, cores de tinta não são um grande negócio, mas quem sabia o que poderia fazer a casa ser vendida mais rápido? E se isso fizesse a minha conta engordar e me ajudasse a chegar mais perto de encontrar e deixar Phil, então gastar 100 dólares em um pintor seria um dinheiro bem gasto.


Por fim, o quarto dos meus pais. Eu estava exatamente no meio do quarto, inalando os aromas de minha memória. Eu me inclinei para a direita, desejando sentir o cheiro do lírio e rosa, perfume que minha mãe usava todos os dias. Na minha mente, eu via a vaidade à moda antiga onde ela se manteve, com o vidro de óleo de amêndoas, a vaselina que ela espalhava em vez de loção. Foi lá que eu aprendi a aplicar rímel, sob seu olhar atento. Foi naquele banco que eu gritei meus medos, enquanto ela se sentava em sua cama. Nesse banquinho ela explicou o que a mancha vermelha na minha calcinha significava, e como usar um absorvente interno, nós duas gaguejando e coradas. Quando criança, eu adorava vê-la se preparando para sair com o papai. Mesmo que ela sempre usasse o mesmo vestido azul e sapatos pretos, ela sempre pareceu tão glamourosa ao aplicar blush e batom.


Virando-me, eu jurei que eu podia ver o copo de água que meu pai sempre manteve em sua mesa de cabeceira ao lado de sua National Geographic e óculos de leitura. Pegar a revista National Geographic foi como um feriado com o pai e eu. Eu arrancaria a embalagem e esperaria o pai voltar para casa. Depois do jantar, nós dividiríamos uma tigela de sorvete enquanto folheássemos as páginas brilhantes. Eu aprendi sobre as florestas tropicais do Brasil, os desertos da China, múmias, animais numerosos demais para contar, e as pessoas que vivem em partes do mundo que eu só podia sonhar. Quando fiquei mais velha e eu me tornei legal demais passar um tempo com meu pai, eu não teria sequer me preocupado em levar a revista para cima. No entanto, não muito tempo depois que me formei da faculdade, eu fiz minha própria assinatura.


Eu me encostei em um canto e solucei. Enormes e feios gemidos palpitantes. Tantas noites eu tinha me enfiado em sua cama depois de um sonho ruim, segura e confortável entre o ronco dos meus pais. Por outro lado, ouvi-os discutir e chorar ao longo dos anos. Normalmente, era meu pai dizendo que mamãe estava gastando muito com bugigangas (tivemos uma coleção cada vez mais rotativa do kitsch nas paredes e prateleiras), mamãe retrucava dizendo que ele era muito mão de vaca, e o meu mais recente incidente foi um sinal de que eu estava fora de controle. (Para aqueles perguntando, esgueirar-se para encontrar o seu namorado mais velho quando você é um calouro é um voto sim automático de seu pai.) Eu ouvia através das paredes, querendo saber se eles se divorciariam como tantos de meus colegas de escola. Eles nunca se divorciaram, obviamente, embora tivéssemos alguns cafés da manhã tensos. Eles estavam em seu caminho para ver seus novos netos quando suas vidas tinham sido tão cruelmente interrompidas


Meu pai, sempre um velho rabugento, tinha um lado que só mamãe e eu víamos. Para seus colegas, ele era o cara que era meticuloso sobre os seus relatórios e planilhas. Aos meus amigos, meu pai era o único que tinha os números de telefone de todos os pais e não hesitaria em começar a ligar se eu estivesse mais do que cinco minutos atrasada. Para o caixa do supermercado, ele era o ponto baixo de seu dia: aqui vem o cara com um envelope gordo de cupons e um cartão do clube, pronto para espremer cada último centavo de poupança. Mas em casa, meu pai era o cara insistindo que tentássemos qualquer nova receita que tínhamos encontrado em uma revista. Papai era o homem que ia cobrir todas as superfícies disponíveis na cozinha com ingredientes, assobiando enquanto inventava qualquer entrada que enfeitaria a nossa mesa. Papai era o homem que iria dividir uma taça de sorvete com sua filha e responder suas perguntas intermináveis ​​sobre os padrões de migração da borboleta monarca que ela aprendeu em uma revista National Geographic. Ele era o marido que nunca parou de dizer a sua esposa como ela era bonita, mesmo que ele já tivesse visto o mesmo vestido, sapatos e corrente de ouro uma centena de vezes. A minha mãe poderia ser um pouco obcecada com seriados policiais e iria tentar discutir os méritos de um "caso" com o papai e eu. Ela sabia que poderia dizer quem era o culpado dentro de dez minutos. Mamãe também era incrivelmente dedicada a mim, sua única filha. Quando eu estava grávida, ela confidenciou que tinha tentado ter outro bebê poucos anos depois que eu nasci, mas isso simplesmente nunca aconteceu. "Então, eu só derramei tudo o que eu tinha em você." E ela fez, isso que ela fez. Mamãe pacientemente me ensinou a ler, lendo para mim todas as noites um capítulo da série "Little House on the Prairie". Foi a mamãe quem me ensinou a andar de bicicleta, ela que fazia o curativo em meus joelhos e cotovelos ralados. Mamãe me ajudava com cada pedaço de lição de casa, todos os projetos de ciência, cada resumo de livro. Ela pacientemente deixava-me fazer seu cabelo e maquiagem como uma menina, mesmo que o resultado fosse menos "Revlon" e mais "Pennywise". Quantas vezes como uma adolescente eu tinha chorado e desabafado sobre meninos, sentando-me no banquinho da penteadeira enquanto ela se sentava na beirada da cama, balançando a cabeça sabiamente? Mamãe iria me abraçar depois que a tempestade passasse, esfregaria minhas costas, me diria que eles eram a escória, e me faria um delicioso Dr. Pepper com limão.


Me recompus e olhei meu celular, surpreendida em quanto tempo tinha passado. Eu ainda tinha algumas horas, mas eu percebi que não iria doer tentar. Foi um pouquinho de uma caminhada para a felicidade, mas eu literalmente não tinha mais nada para fazer hoje. Parando em um Starbucks para um café, eu vagava e ouvia o tilintar do sino contra a porta de vidro.


"Alex está?" Eu perguntei a um garoto adolescente com um maço de papel toalha em uma mão e uma vidro de desinfetante na outra.


"Ele está no escritório, vou chamá-lo. Ele está esperando por você?" O garoto colocou seu material em uma mesa de de vidro bonita que em outras circunstâncias eu provavelmente nem teria notado.


"Sim, diga-lhe que é Isabelle sobre a compra que William e Sandra [em branco] fizeram no ano passado." Eu virei o copo de papel em minhas mãos nervosamente. Alex não tinha me parecido um tipo particularmente amigável de cara, e ele certamente não tinha a obrigação de me dar as informações. É verdade que Nova Inglaterra pode ter um tipo de gente rude, mas eu nasci e cresci em New Hampshire e vivi em Boston. Esse cara só me pareceu... espinhoso. Eu só esperava que eu não estivesse lhe dando nos nervos.


Por sorte, Alex estava de um modo totalmente amigável.


"Isabelle, eu achei o que você quer, entre." Alex gritou de sua porta. Eu serpenteava meu caminho em torno de mesas, sofás e cadeiras para um escritório apertado com uma mesa de metal cheia de arranhões e uma cadeira velha que tinha visto melhores décadas.


"Eu sei que cheguei cedo, eu me adiantei e imaginei que não faria mal tentar." Eu disse num tom de pedido de desculpas, colocando minha bolsa no chão.


"Eu disse que encontrei , então não se preocupe. Lembro-me agora, foi a sua mãe que veio aqui. Sandra. Eu a chamei de 'Sandy' e ela me disse que era 'Sandra', não 'Sandy'. De qualquer forma, eu encontrei o recibo de venda. Uma mesa de troca e dois berços de madeira amarelos. Eu preciso manter o recibo original. Receita Federal, sabe. Mas aqui está uma cópia para você."


Alex deslizou um recibo escrito à mão a partir de um livro de recibos de cópia de carbono. Meu coração bateu forte no meu peito. Minha boca ficou seca enquanto a minha garganta se fechou. Eu podia ouvir o sangue correndo em minhas orelhas, e as minhas mãos haviam sido paralisadas. Eu tremia enquanto segurava o papel na minha frente, não acreditando no que estava vendo.


BERÇO MAD. AMAR. X2 $349,15 (698,30)


MESA TROCA AMAR. $151,43


849,73 PG #1543, SANDRA [EM BRANCO]


Eu não sabia o que fazer ou o que pensar. Eu esperava que minha investigação me levasse a isso, mas eu acho que eu não pensei que isso iria realmente acontecer. Eu murmurei algo para Alex, coloquei o recibo na minha bolsa e explodi pela porta. Eu corri por três quarteirões antes eu tivesse que parar em um beco e vomitar. Me levantei e encostei na parede. Minha cabeça estava girando e minhas pernas estavam fracas. Eu me senti como se estivesse bêbado. Jessica era real. Eu não tinha a imaginado. O que tinha acontecido com ela? Onde ela estava? Ela estava bem? O quão profundamente envolvido o Dr. Keats estava? Eu não sabia por onde começar.


Voltei para o estacionamento do hotel, dirigindo ao escritório de advogados. Eu não tinha marcado hora e eu sabia que ia ser muito difícil ver Renée. Pamela, sua assistente confirmou que ela estava com um cliente. Droga.


"Pamela, talvez você possa responder à minha pergunta. É bastante fácil." Aproximei-me mais da mulher que dolorosamente me fez lembrar de minha mãe. Pamela tinha os mesmos olhos que ela, aqueles olhos que sorriam a tudo o que viam.


"Bem, eu posso certamente tentar Isabelle." Pamela inclinou-se para trás, sorrindo hesitante.


"A conta foi criada quando eu era uma criança, pelo que entendi. Se Phillip e eu nos divorciássemos, ele não teria direito, certo? Porque ela foi criada para mim antes de nos casarmos?" Eu cruzei meus dedos mentalmente, esperando que ela confirmasse os meus sentimentos.


"Não, não é bem assim. Massachusetts não é um estado de propriedade da comunidade; o que significa que se os dois não puderem chegar a um acordo sobre a forma de dividir o seu patrimônio, o tribunal vai fazer isso por você. Mesmo se eles permitirem que você mantenha 100%, eles ainda vão usá-lo para calcular apoio à criança e pensão alimentícia. Como a casa ainda está em seu nome, o que é levado em conta, embora você provavelmente ficaria com ela no caso de divórcio; por falta de um termo melhor." Pamela tinha ido de um olhar incerto para um olhar totalmente desconfortável. "Você, obviamente, precisa de um grande advogado do divórcio, mas de improviso, eu diria que você iria pagar-lhe pensão alimentícia. É calculado apenas dos rendimentos. Devo fazer uma entrevista com a Sra. Harvey?"


Eu balancei minha cabeça. Virei-me para sair, mas depois tive mais uma ideia:


"Pam, se fosse para ligar e perguntar o que eu tinha discutido com você ou Renée, ou mesmo que eu estive aqui, o que você diria a ele?"


"Isabelle, você é nossa cliente. Não podemos discutir qualquer coisa com ele. Não é da minha conta, mas eu tenho a nítida impressão de que ele poderia causar problemas se ... Phillip soubesse que você esteve aqui. Nós não discutimos nem mesmo os elementos de seus compromissos com o seu marido. Isabelle, se você não está segura, há lugares que você pode ir." Pamela colocou uma mão suave e macia no meu braço.


Meus olhos inundados de lágrimas, e eu balancei minha cabeça. Eu disse que eu estava bem e sai do escritório.


Uma vez eu estava seguramente abrigada em meu quarto de hotel, eu vomitei mais uma vez. Eu sabia com cada fibra do meu ser que eu não poderia me divorciar de meu marido. Ele iria me matar antes de ele me deixar fora de seu alcance. E considerando que eu não tinha ideia do que aconteceu com a minha filha (Jessica nunca mais será referida como o nossa), eu não tinha sabia o que ele seria capaz de fazer para o meu filho. É verdade, Phillip queria um filho mais do que qualquer coisa, mas somente se ele pudesse controlar Harry.


Eu não queria pensar sobre o que tinha acontecido a Jessica, mas eu fui forçada. Eu sabia que a escravidão branca era um problema, mas grande parte girava em torno de pré-adolescentes e adolescentes ... Mas então quem sabia que fantasias depravadas espreitavam nas trevas do mundo? Eu tinha lido um livro, há vários anos, sobre uma mulher que tinha sido vendida como escrava por seus pais. Eles eram analfabetos, vivendo em um barraco nas colinas da Virgínia, e tinham sete outras crianças. Um advogado rico tinha se oferecido para "adotar" ela e pagar a seus pais dez mil dólares. Ainda bebê, ela foi levada para o Egito e durante os primeiros anos viveu muito feliz em um local que descreveu como um palácio. Mas, em seguida, ela foi usada como uma escrava para o trabalho e... outras coisas. O pensamento de meu bebê sendo usado na escravidão provocou um grito primitivo vindo de minhas vísceras.


Eu iria encontrar a minha filha. Eu não me importava se ela estava em Gana ou abaixo de seis pés de sujeira, eu iria encontrá-la e abraçá-la.


E eu iria matar o meu marido.


No entanto, eu tinha visto seriados policiais suficientes com minha mãe para saber que fugir depois do assassinato era muito mais fácil que cometer assassinato. O cônjuge era sempre o primeiro suspeito; e com razão: era quase sempre o agressor. Eu tinha que pensar nesta parte do meu plano, enquanto simultaneamente descubro onde minha menina estava. De repente, minha miséria transformou-se em determinação.


Primeiro na minha playlist? Let the bodies hit the floor, let the bodies hit the floor, let the bodies hit the floor, let the bodies hit the floor. Próxima? I see a red door and I want it painted black, no colors anymore I want them to turn black.


Eu sabia que Dr. Keats estava envolvido de alguma forma, mas quão profundamente era outra questão. Ele havia entregado Phillip e Leslie, e agora Harry e Jessica. O que Phillip teria dito para levar o meu precioso bebê embora? Eu tive que pensar em vê-lo, o que não seria difícil. Obter meus registros dele seria. Eu brevemente pensei em roubá-los, mas eu não queria ser pega com eles comigo, nem por um segundo. Eu arrisquei e disquei para seu escritório:


"Escritório do Dr. Keats, aqui é Lilith, como posso ajudar?"


"Oi, Lilith aqui é Isabelle, eu preciso agendar uma consulta com o Dr. Keats, por favor."


"Claro que sim, eu posso colocá-la em espera por um momento?" Eu tinha um plano, e eu sabia exatamente como ver meus registros.


"Isabelle, que história é essa de um consulta?" Perguntou Dr. Keats.


Merda! Isto não era parte do plano!


"Oh, oi doutor! É o seguinte, é que Phillip não sabe que eu estou ligando. Mas como você sabe, o nosso filho tem quase um ano agora, e eu quero discutir sobre ter mais filhos. Mas eu quero fazer todos os exames primeiro. E se tudo parecer bom, então estou pensando em falar com Phillip sobre engravidar novamente. Eu sei que é prematuro, mas eu gosto do nome Alexei." Eu ri para completar, sabendo que em poucos segundos depois de desligar o telefone ele estaria ligando para meu marido se ele já não enviou um SMS.


"Alexei? É um nome interessante. Bem, Isa, eu acho que é uma boa ideia, em geral, para as mulheres fazer exames antes de tentar engravidar novamente. Eu acho que você deve conversar com Phillip, mas seu casamento é da sua conta. No entanto, por que você não vem na próxima segunda-feira, às dez e nós vamos fazer tudo que for necessário?" Dr. Keats claramente não tinha ideia de que sugerir o nome Alexei a essa família amaldiçoada era um insulto. Eu confirmei a consulta e desliguei.


No momento em que eu cheguei em casa, eu sabia que o meu amado ia morrer pela minha mão. Quando nos casamos, o padre citou que frequentemente usava um trecho da Bíblia do Corintios: "O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá" E isso era verdade - meu marido iria desaparecer, mas o amor para os meus filhos não iria. Eclesiastes teve um pequeno verso que dizia: "Para tudo há uma estação, e um tempo para todo propósito debaixo do céu: tempo para nascer; e um tempo para morrer." Bem, se fosse esse o caso, então Deus, em Sua infinita misericórdia iria proteger esse homem do que eu tinha planejado para ele.


Phillip me encontrou na porta e prontamente me entregou Harry. Eu segurei meu menino doce mais perto do que nunca, sabendo que seu pai iria sacrificar nós dois para manter seu segredo. Eu silenciosamente prometi que eu iria encontrar sua irmã e iria nos tirar daqui. Olhei para Phillip, que não estava claramente feliz comigo.


"Eu recebi um telefonema interessante do Dr. Keats esta tarde." Disse Phillip, sua voz cheia de veneno. Eu sabia que ele iria te ligar, filho da puta, por que você acha que eu liguei para ele? Eu pensei.


"Ok, bem, considerando que você sabe do que se trata, por que você parece um bebê chateado?" Fingi inocência com olhos arregalados; abaixando minha cabeça um pouco e mordendo meu lábio inferior.


"Não tenho nenhum problema com você me dando mais filhos. Mas, para começar, você nunca, nunca dará a meu filho o nome de Alexei, você me entende, porra? Como você se atreve até mesmo a sugerir isso? O nome de um príncipe fraco?! Não. Meu próximo filho se chamará Alexander. Fim de papo. Em segundo lugar, eu não tenho nenhuma garantia de que você vai me dar outro filho. Você ainda tem que engravidar novamente e mesmo se você conseguir, o que garantia que você pode me dar que você vai ter um menino? Hmm? COMO VOCÊ PODE GARANTIR, ISABELLE ?!" Phillip gritou na minha cara, me fazendo estremecer e reconsiderar meu plano, enquanto Henry começou a gritar. Eu beijei meu filho na cabeça e acalmei-o, chorando junto com ele.


"Phillip, eu mencionei esse nome como uma piada, eu sinto muito. Claro que nós nunca chamaríamos o nosso filho de Alexei! Eu não sabia que você ia ficar assim! E sobre eu não ficar grávida de novo, às vezes casais perfeitamente saudáveis conseguem antes do esperado! Por que você acha que eu agendei a consulta? Porque eu quero te dar filhos! Mas não, eu não posso prometer que vou te dar filhos, ninguém pode! Eu não posso controlar quais cromossomos desenvolver! O que você quer que eu faça? Você quer discutir adoção talvez?" Eu estava me agarrando em palhas e nós dois sabíamos disso.


"Adoção? E criar um bastardo? Como diabos saberíamos o que está errado com sua linhagem. Ah, claro, eles dizem que a mãe e o pai são bons, mas eles podem mentir só para impingir a criança em você. Não, Isabelle, eu não vou trazer alguma criança vira-lata para nossa família. Ou é meu ou não é de jeito nenhum. Você irá engravidar, e você fará uma amniocentese. Eu conversei com o Dr. Keats, você poderá fazer com 11 semanas, e ele vai dizer se você tiver feito o seu trabalho ou não. Se você não tiver, o problema será eliminado. Não se engane, meu pequeno doce, minha esposa querida, você não vai me deixar. Eu não cheguei onde eu estou em minha vida para tolerar meu fracasso, e não é só porque você é minha mulher que significa que você terá qualquer folga. Pelo contrário, você está presa a um padrão mais elevado." A mão de Phillip estava trancada em um quase-aperto em meu queixo, seus olhos tão duros quanto granito e perfurando os meus.


Eu estava completamente, totalmente, inteiramente apavorada. Eu tinha me casado com uma abominação. Eu era como sua mãe. Eu não era mais do que o estoque muito fértil. A diferença era, ao passo que Louis era apenas um bastardo cruel, Phillip era um cruel e calculista assassino. Se eu engravidasse de uma garota mais uma vez, mais cedo ou mais tarde, o problema a ser "eliminado" seria eu - e seria permanente. Eu balancei a cabeça, tanto quanto eu podia e ele soltou o aperto da minha mandíbula. Eu finalmente falei:


"Phillip, meu Rei, meu amor, meu tudo. Por favor, acredite que eu quero nada mais do que agradá-lo e dar-lhe tudo que você já queria - apenas como uma mulher deve fazer, e eu sei o meu lugar. Você deve acreditar em mim, Phillip, por favor. Eu não quero te tirar nada, mas te dar filhos e herdeiros, assim como sua mãe deixou de fazer, eu não vou deixar você. Eu não vou parar até eu lhe dar mais filhos. Isto pode soar estranho, mas eu nunca estive mais lúcida na minha vida." Eu engasguei essas últimas palavras, todo o meu ser foi insultado por ele. O rosto de Phillips assumiu uma expressão de satisfação e curiosidade, então eu mergulhei nisso, tentando agir da melhor maneira possível, sabendo que a vida do meu filho e a minha dependia desse desempenho e das performances subsequentes, eu fui forçado a fazer.


"Quero dizer que, vendo você assumir o controle assim, ser tão dominante? Baby, eu vou colocar Harry em seu berço, e então você irá me foder. Você vai me punir e me foder, dolorosamente, e por a sua raiva para fora. Phillip, leve-me, eu te quero tanto." Eu dei um passo para mais perto dele, abaixando minhas pálpebras com um ar de sedução.


O monstro com quem eu tinha casado olhou para mim apenas brevemente antes de agarrar meus cabelos dolorosamente e me beijou tão forte que na manhã seguinte eu tinha hematomas em minha boca. Senti a bile subir na minha garganta e engoli. Ele concordou e me dispensou com um breve aceno de cabeça. Eu andei lá em cima, pensando que eu nunca tinha em meus piores pesadelos conjurado isso. Eu estava negociando meu corpo para as nossas vidas, e bajulando a uma criatura do mal, vomitando mentiras como uma mangueira de incêndio.


Eu acordei na manhã seguinte, machucada e sangrando. Cada músculo do meu corpo gritou em protesto quando eu me sentei. Phillip fez exatamente o que eu sabia que ele ia fazer - me puniu de um modo como ele jamais imaginou punir uma mulher. Eu sei que algumas pessoas praticam sexo violento, mas é mutuamente agradável e consensual. Ontem à noite eu estava sendo batida, mordida, e puxada até que ele viu os hematomas e sangue. E toda o tempo eu gritava e gemia como uma estrela pornô.


Eu nunca tinha me odiava tanto.


Phillip agitado ao meu lado, olhava presunçosamente satisfeito em sua obra. Olhei para ele, ronronando:


"Eu sei o comercial diz que Folgers é a melhor parte de acordar, mas se você continuar deitado e me deixe fazer o trabalho, eu vou provar que estão errados."


"Eu sabia que você ia ser perfeita para mim, mas você está provando a mim ser mais e mais." Phillip murmurou enquanto eu montei-o bruscamente. Ele mordeu meu lábio quando ele me beijou, tirando sangue novamente. Eu chorava de dor, que terminou felizmente para ele.


"Vista-se, nós temos que ir para o Dr. Keats." Ele disse casualmente, como se ele não tivesse acabado de me fazer sangrar pela enésima vez em menos de 10 horas.


"Mas ... eu pensei que era na segunda-feira?" Eu gaguejava. Hoje era sábado, deveria estar fechado.


"Eu mudei, o bom médico e eu nos encontraremos depois Þ um longo tempo. Ele era um velho amigo de meus pais, você sabia disso? Além disso, não pode desfilar em público com esse olho roxo. Não que você não tenha gostado, minha doce Isabelle."


"Oh, é claro! Como foi estúpido da minha parte! Você está certo, eu estou contente que ele está sendo tão complacente. Será que ele vai dizer algo sobre isso... tapas de amor?" Eu sorri, e considerando que ele estava comendo como uma criança faminta, eu diria que minhas habilidades de atuação foram espetaculares.


"Dr. Keats? Ah, não, se ele vai dizer alguma coisa eu o colocarei em seu lugar. Sabia que ele é um descendente direto de Eugene Botkin, o médico da corte da família Romanov? Sim, é por isso que ele e meu pai eram tão bons amigos. O Dr. Botkin amava aquele pequeno aleijado Alexei mas Keats, ele não iria cometer o mesmo erro. Enfim..." Phillip riu, puxando sua camisa.


"Como ele chegou a conhecer seu pai? Foi porque sua família está relacionada com a Romanov e ele estava relacionado com o seu médico?" Inclinei a cabeça, correndo um pente pelos meus cabelos - que graças a Phillip estavam mais finos depois dos punhados puxados na noite anterior.


"Bem, sim, é uma longa história. Você está quase pronta? Enquanto você termina de se arrumar vou aprontar o Henry." Phillip deu um beijo na minha cabeça ferida enquanto eu pegava a minha escova de dentes. Assim que ele saiu do quarto eu fechei a porta do banheiro e arranquei o DIU, sem pensar duas vezes em qualquer dano irreparável que eu pudesse ter acabado de causar a mim mesma. Na verdade, eu esperava que tivesse causado. Danificado não era o mesmo que morto.


Uma vez no escritório, que estava assustador com as luzes apagadas, exceto por seu escritório e sala de exame, Dr. Keats perguntou com que frequência nós tínhamos nossos momentos de intimidade, se eu menstruava regularmente, e declarou que meu sistema reprodutivo estava saudável. Depois que eu coloquei meus jeans de volta, perguntei ao bom médico:


"Phillip disse que nós podemos fazer a amnio com 11 semanas para ver se nós estamos tendo um menino. E se nós não estivermos? O que faremos? Nós não queremos meninas nessa família." Os olhares trocados pelos dois confirmaram que Dr. Keats estava de alguma forma envolvido pelo motivo de Jessica não estar em meus braços.


"Bem, há algumas coisas que podemos fazer. Uma deles é o aborto, obviamente. Ou você pode levar a gravidez e fazer uma adoção particular. Lotes de dinheiro seriam feitos dessa maneira. É o que eu chamaria de transformar o negativo em positivo. Phillip, quais são seus pensamentos?" Dr. Keats olhou com expectativa para ele, claramente eu não teria voz em qualquer decisão a ser tomada.


"Sabe... não é como se isso nunca tivesse sido feito antes. Quero dizer, não por mim, mas no passado. De quanto dinheiro estamos falando?" Puta. Merda. Eles estavam discutindo vender o meu bebê da mesma forma que outros iriam discutir o que comeriam no almoço!


"Acima de cem fácil. O advogado é, basicamente, um corretor se você quiser. Os pais pagam todas as minhas taxas e os honorários advocatícios, além da 'taxa de indicação' se você quiser. Recebo cinco por cento, o advogado recebe quinze, você fica com o resto. Essas pessoas não querem esperar por uma aprovação formal. E nunca constará nos documentos que Isabelle estava grávida, não haverá nenhum registro formal de qualquer assistência pré-natal, os pais serão listados na certidão de nascimento - não você. Considerando que você está interessado, oficialmente, isso nunca aconteceu." Dr. Keats explicou, e foi aí que eu soube exatamente o que havia acontecido com Jessica. Meu bebê tinha sido vendido para o maior lance, enquanto os meus registros foram esterilizados. Rezei para que quem tinha comprado a tratasse bem.


"Se ela ficar grávida de uma menina, eu não ficarei feliz, então isso é o que vamos fazer". Virando-se para mim, acrescentou: "Mas você não vai estar fora do jogo, Isabelle. Eu ainda vou te considerar um fracasso."


"Bem Phillip, mas cem mil dólares vai ajudar a aliviar a dor, não vai? Dr. Keats, esta é uma boa notícia. Eu suponho que você tenha um advogado em mente? Não que eu esteja pensando em gerar uma menina, mas eu quero ter todas as minhas possibilidades cobertas." Eu parecia literalmente uma nazista enquanto estes dois homens eram a semente de Satanás e Hitler.


"Eu tenho. Seu arroz com feijão é a lei de apoio à criança. Ele é basicamente um advogado de direito da família, por isso ele tem as conexões certas. De qualquer forma, nós estamos falando do pior cenário. Vou deixar vocês sairem daqui e chegar a fazer alguns filhos!" Ele riu e nós fomos embora.


Eu sabia exatamente a que advogado ele estava se referindo, vi seus anúncios e outdoors por toda Boston. E agora eu sabia exatamente quem tinha vendido o minha filha. Não era incomum para os médicos e advogados de direito de família estar em conluio. Os advogados pagavam aos médicos para serem peritos nos julgamentos e audiências de divórcio e custódia. Em contrapartida, se o paciente mencionasse que ela estaria recebendo um divórcio o médico iria encaminhá-los para que o advogado. Não era estritamente legal, mas não era tecnicamente ilegal também.


Naquela noite eu decidi que os meus planos seriam colocados em ação. Eu não ia esperar mais. Eu não pudia. Meu marido tinha vendido minha filha. Eu só podia esperar que as pessoas que compraram a amassem. Eu sabia que ele me mataria se eu engravidasse de uma garota mais uma vez. Quando criança, eu costumava virar meus olhos quando a mamãe trocava as séries policiais por livros. Mas pelo resto do meu dia, lembrei-me várias cenas e fatos de diferentes livros para me ajudar a formular o meu plano. Até o final do dia, eu tinha o meu plano estabelecido.


Uma vez que Henry estava na cama, peguei Phillip e puxei-o para o quarto. Eu havia recriado a noite anterior, certificando-me que ele estava tão rude quanto antes. Eu olhei para a porta de vidro do armário que mantinha seus livros e prêmios, e eu estava satisfeita com o que via. Eu vi uma mulher com um olho roxo, sangue em seu lábio, e tantos hematomas que sua pele parecia uma onça. Eu raspei minhas unhas por sua bochecha, o que me rendeu um punhado de cabelo perdido. Tudo estava indo conforme o planejado. Eu estava fazendo a melhor atriz pornô possível quando o senti tenso. Eu conhecia meu marido, e eu sabia que ele iria jogar a cabeça para trás, com os olhos fechados.


Eu senti a maçaneta da gaveta da mesa, abrindo-a e procurando pelo punho do revólver antigo. Meu marido foi meticuloso em onde guardava coisas: sempre no mesmo lugar; e o revólver era mantido sempre na primeira gaveta. Eu peguei o cano e virei com toda a minha força em direção a sua têmpora.


O “CRACK” foi gratificante! Confirmou que eu a tinha destravado. Phillip estava apenas momentaneamente atordoado, mas foi o suficiente para tirá-lo de cima de mim e derrubá-lo ao chão. Eu peguei a arma e atirei no joelho. Phillip gritou furioso, em agonia.


"QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FAZENDO, SUA VADIA LOUCA?”


Eu peguei a arma novamente, mantendo-a apontada para ele e dei um passo para trás, ficando distante o suficiente para que ele não pudese me pegar.


"Meu amado marido, onde está Jessica? Agora lembre-se, eu sei a resposta. Eu sei que você e Dr. Keats trabalharam com aquele advogado filho da puta para vendê-la. Eu vi os registros médicos de Dr. Whiting, eu estava grávida de gêmeos. Eu vi as ultrassonografias. Sim, acontece que só porque um centro de imagem sai do negócio não significa que seus registros somem. Foi um grande esforço matar Dr. Whiting, mas apenas alguns de seus registros foram enviados para Keats. Então não tente me enganar, seu filho da puta. Porque para cada resposta errada você me der, eu vou despejar outra bala em você. Eu tenho a caixa de munição aqui. Agora, comece a falar." Eu sacudi a caixa de balas e a arma apontada para seu peito. Eu esperava que ele não notasse meu blefe, mas se ele notou... Certo, qual de nós segurava a arma?


"Sua vagabunda estúpida, você nunca vai encontrá-la. Ela está muito longe, e eu estou oitenta mil dólares mais rico. E não, você nunca vai ser capaz de pegar o meu dinheiro. Trata-se de uma conta secreta nas Ilhas Cayman. Eu sabia que você iria me dar novamente outra garota. Eu pegaria mais oitenta mil. Eu cuidaria de você enquanto eu transferiria nossos ativos para essa conta, e então o meu filho e eu viveríamos confortavelmente nos trópicos. Me deixe segurar isso para você, não acho que você tenha coragem para fazer... isso." Phillip começou a rir, e eu disparei outra vez, bem por cima do ombro, quebrando o vidro da gaiola.


"Eu não quero o seu dinheiro sangrento. Aqui está um fato pouco divertido para você, estou atualmente com pouco menos de um milhão graças a meus pais. Então. O casal que tem Jessica. Eu entendo que eles estão em Salem. Onde em Salem, Phillip?"


"Sua maldita idiota, é Salisbury!" Phillip gritou com um sorriso. Eu disparei outra vez, pegando de raspão seu braço.


"Salisbury, Salem. Eu acho que, dadas as circunstâncias, a confusão é compreensível. Agora, onde em Salisbury eles vivem?"


"Eu não sei! Essa é a verdade! Tudo que eu sei é que ela é uma dona de casa e ele é um executivo. Dr. Keats disse que você tinha ido longe demais para abortar ela, e havia muitos registros que mostravam gêmeos. Nós não podíamos simplesmente nos livrar dela, então ele me colocou em contato com o advogado. Nós nos encontramos algumas vezes, e uma vez que os gêmeos nasceram, ele a levou para eles. Nesse meio tempo, uma conta foi criada em meu nome nas ilhas, e no dia seguinte ao nascimento de Henry nasceu, os fundos foram transferidos."


"E a Dr. Whiting? Meus pais? Eles eram apenas danos colaterais?"


"Keats pagou alguns bandidos de rua com comprimidos para tomar conta dela. Seus pais, isso doeu. Literalmente. Eu tive que bater deliberadamente o carro, mas pelo menos eu tive a presença de espírito para soltar o cinto de segurança da sua mãe antes da batida. Seu Pai? Bem, isso foi apenas sorte, eu pensei que eu ia ter que quebrar o pescoço dele." Eu coloquei o cano contra a testa dele, as lágrimas sendo derramadas.


"Dê-me uma razão pela qual eu não deveria puxar o gatilho agora."


"Porque sem mim, você nunca vai ter esse bebê precioso de volta. Em segundo lugar, ninguém vai acreditar em você. Finalmente... você vai fazer de qualquer maneira." Phillip me olhou bem nos olhos enquanto eu recuava e puxava o gatilho.


Ele caiu morto. Eu deixei a arma cair, e me bati, as costas em primeiro lugar, bem no armário de vidro. Eu gritei quando senti o vidro perfurar minha pele e moer-se em meus ombros. Peguei o telefone do bolso, manchado de sangue e disquei 911.


"911, qual a sua emergência?" O operador pediu calma.


"SOCORRO! Meu marido está tentando me matar! Ele tem uma arma! AHHHHH!" Comecei a chorar e respirar desesperada.


"Senhora, eu preciso que você se acalme. Eu vejo que você está no 7816-[em branco], estou enviando ajuda, você pode ficar na linha?"


"Sim, Eu - Phillip, não! NÃAAAO!" Eu bati no botão e desliguei, caminhei até meu marido morto, e envolvi sua mão ao redor do telefone, borrando suas impressões digitais na tela.


Os policiais estavam a caminho, olhei em volta para ver se havia alguma coisa que eu tinha perdido. Não. Eu tinha hematomas frescos e sangue, que estava nos nós dos dedos e mãos Phillips. Eu tinha a sua pele e sangue sob as unhas, e estava faltando punhados de cabelo em minha cabeça - que ele tinha sobre ele. Tudo parecia exatamente do jeito que eu precisava.


Eu corri para cima e agarrei Henry, que estava dormindo docemente. Eu carreguei-o suavemente até o andar de baixo, chorando tanto que eu estava soluçando. Eu sentei de pernas cruzadas no canto do nosso hall de entrada, balançando para frente e para trás com meu filho mexendo e, curiosamente, olhando ao redor. Foi assim que a polícia me encontrou quando eles arrombaram a porta. Eu lamentei que ele tenha tentado me matar e que eu tinha usado a arma contra ele em legítima defesa. A julgar pelos olhares em seus rostos, como a cena do crime estava e o vidro fincado em meu ombro, eu diria que eles concordaram.
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CONTINUA...


Acho que meu marido fez alguma coisa com um dos gêmeos - Parte VI

(Caso não tenha lido a parte 1,clique aqui -PT 5-)
Quando eu voltei exatamente uma semana depois, Brenda me entregou um pacote incrivelmente fino com notas escritas à mão. Eu coloquei Henry, que estava dormindo satisfeito em seu assento para carro, no chão e os folheei. Havia cartas que eu não entendia, todas escritas em um rabisco ilegível. Nada foi digitado, não havia ecografias. Eu não poderia decifrar nada do que foi escrito, exceto meu nome e datas. Eu caminhei até a mesa, onde Brenda estava claramente irritada com a minha presença. Eu não dei a mínima.


“Com licença, mas onde estão meus ultrassons? Por que as notas do meu arquivo não foram digitadas?”


Brenda suspirou como se estivesse prestes a explicar alguma coisa para uma criança muito lerda. "As notas digitadas eram enviadas à Dra. Whiting. Assim como os ultrassons, que na verdade eram feitas por uma empresa externa; é uma prática bastante comum. As suas foram feitas pela ImageTech, e eles saíram do negócio no ano passado".


"Então, o que acontece com meus registros? Alguém tem que tê-los se você não tem, e eles estão fora do negócio, certo? Quer dizer, eles não podem simplesmente jogá-los fora, podem?" Brenda olhou para mim sobre seus baratos óculos de leitura. Eu olhei de volta, olhando para seu rosto gorduroso e sua base laranja demais.


"Ei, Luanne! Luanne! Quem tem os registros da ImageTech, uma vez que eles fecharam? Alguma ideia?" Luanne, quem quer que fosse, digitava algo em seu computador, eu podia ouvi-lo a partir do balcão.


"McKesson Records Management. Eles estão instalados em seu escritório corporativo em São Francisco, o seu número é 800-661-5885. Você precisa dar-lhes um comprovante de identidade, e o processo provavelmente vai demorar de 10 a 15 dias úteis." Luanne, santa seja ela, surgiu do abismo para dizer onde ficava o escritório de registros.


"Ok, então. McKesson tem os registros, e seu outro médico tem a maioria do seu arquivo. Existe mais alguma coisa em que eu possa ajudá-la?" Brenda perguntou, obviamente sem paciência. É evidente que a única coisa que ela queria me ajudar era sair pela porta.


“Não, nada, obrigada.” Peguei Henry, e empurrei meu maço de notas no lixo mais próximo. Não havia nada lá que eu poderia ler de qualquer maneira. Dra. Whiting tinha minhas anotações, e entrar em contato com McKesson só significava que eles enviariam os exames para casa. Eu não ousaria abrir uma caixa postal e eu não conhecia ninguém que eu podia confiar para ter onde enviar.


Naquele momento, minhas investigações tinham sido frustradas. No entanto, havia uma coisa que ainda não tinha: eu estava para entrar no programa de controle de natalidade. Eu tinha um horário naquela tarde com um planejador de paternidade para colocar um DIU. Se havia uma coisa que eu tinha certeza, era que eu não teria outro filho com este homem. Eu tinha marcado a hora com um nome falso, assim, no caso que de alguém ligar para checar, eles não teriam nenhum registro de mim. Eles pediram um número de segurança social, mas eu duvidei da minha sequência aleatória de números iria ser notada. Se assim fosse, gostaria apenas de dizer que eu não me lembrava. Assim como se pedissem para apresentar o meu RG... Essas coias são incrivelmente fáceis de fazer. Fiquei chocado com a facilidade com que eu estava disposta a cometer fraudes e mentir, mas apaziguando a minha consciência, dizendo que era para o bem maior.


Tive sorte, o recepcionista não olhou muito de perto o meu RG e o número aleatório que eu anotei não levantou quaisquer suspeitas. Uma vez que o DIU foi cuidado, eu fui para casa pensando em como descobrir sobre Jessica. Quebrei a cabeça uma e outra vez. A resposta veio no mais improvável dos caminhos.


Há um café cerca de 30 minutos da nossa casa, eu mencionei antes. Eu me rendo, o melhor blueberry scones do mundo. Parei lá e peguei um café com leite e um bolinho de mirtilo, conversando com a garçonete. Eu sempre fiz questão de conversar com a equipe por isso, se alguma coisa acontecesse, eles se lembrariam de mim. Kayla, a garçonete, perguntou se eu queria o recibo e eu normalmente eu dizia não, mas eu parei e isso me bateu. Eu pedi o recibo e tive um flash.


A CONTA BANCÁRIA DOS MEUS PAIS!


Meus pais tinham morrido, e eu era sua única filha, eu era a herdeira de seus bens. Por mais modestos que fossem, tinham sido deixados em uma conta de confiança que só eu poderia tocar com a permissão do administrador. Eu tinha deixado a casa e todos seus pertences nesta conta, exceto o vestido de noiva de minha mãe, algumas joias e alguns quadros a serem vendidos. Tinha passado meses, o advogado imobiliário entenderia como emocionalmente "devastador", uma vez que tinha ocorrido o nascimento de um filho e a morte de meus pais. Financeiramente, legalmente, tudo estava parado.


Entretanto, se eles estivessem comprando dois de tudo em preparação para o nascimento de dois bebês, a conta bancária mostraria isso. Eu sabia que poderia ver os extratos e isso mostraria as específicas transações de compra. Se eles não tinham comprado pares de tudo, então eu realmente estava louca. De um jeito ou de outro, a conta bancária dos meus pais provariam.


Me certifiquei de que estaria ao telefone com a advogada imobiliária, Sra. Harvey de New Hampshire, quando Phillip chegasse em casa.


“Certo, então eu preciso estar fisicamente aí? Quando devo ir e por quanto tempo precisarei ficar? Não, tudo bem, está certo. Com certeza, obrigada Renée.” Fechei a tela e olhei para Phillip.


“Está tudo bem? O que está havendo? Para onde você está indo?” Phillip bateu sua pasta, surpreendendo Henry.


"Eu tenho que estar fisicamente lá quando o inspetor olhar para a casa, alguma lei estranha de New Hampshire. Eu sou a executor e benfeitora dos bens. Então eu tenho que assinar algumas coisas para o Estado e o recolhimento de impostos. E, dependendo se o inspetor encontrar alguma coisa na casa, eu talvez precise ficar um dia extra para autorizar todos os reparos ou deixar uma nota de que eu estou ciente dessas necessidade. Achei que isso foi tudo tivesse sido resolvido, mas você sabe como as coisas podem se tornar vagarosas, amor. Eu vou ficar fora por dois dias, no máximo. É uma duas horas de carro a partir de Boston até lá, se tudo sair do jeito que eu estou esperando, então eu vou estar em casa no mesmo dia." Eu mantive minha voz deliberadamente indiferente e um pouco exasperada. Eu citando um inimigo comum a todos: impostos.


"Então eu vou com você." Disse Phillip, como se fosse a emissão de um decreto. Eu não tinha planejado isso! Estúpida, é claro que ele gostaria de ir com você!


"Amor, não levam a mal, certo? Mas eu quero ficar sozinha, porque eu nunca cheguei a dizer adeus aos meus pais. Meu tour pela casa pela última vez, a casa que eu cresci, essa é a minha maneira de dizer adeus. E eu prefiro ficar sozinha. Quero dizer, nós não pudemos nem mesmo realizar um funeral, pois seus corpos estavam muito mutilados. Eu preciso desta vez, por mim mesmo, para curar, para encerrar essa história. Por favor, Phillip. Diga-me que você entende." Eu tinha conseguido espremer algumas lágrimas, e quando ele apertou minha mão, eu sabia que ele tinha caído.


Me puxando para ele, ele disse o quanto sentia, como ele me entendia, e eu forcei mais algumas lágrimas. Ficamos abraçados e eu expliquei que eu partiria um dia depois de amanhã, o que significava que eu partiria na quarta-feira e tinha esperanças (em minha cabeça) de retornar na sexta-feira.


Quarta-feira tinha finalmente chegado. Phillip tinha tirado um dia de folga para ficar com Henry, quem ele afetuosamente chamava de Harry. Entrei no carro com a promessa de dirigir com segurança e ligar assim que chegasse lá. Eu ultrapassei todos os limites de velocidade. Agora, se você nunca esteve em New Hampshire, me deixe desenhar para você: uma cidade pequena com uma única coisa importante: a Escola de Medicina de Dartmouth. Sendo assim, quando os policiais avistam uma mulher de meia idade dirigindo um “carro de mãe”, eles deixam ela passar. Eles tem maiores preocupações com um Campus Universitário.


Eu perguntei pelo estacionamento do escritório do advogado, e fui levada direto para o escritório da Sra. Harvey. Bem a tempo de ela ter preparado cópias dos registros bancários de dezoito meses. Houve legitimamente alguns papéis que eu precisava assinar para o banco esvaziar e fechar a sua conta, mas o que eu precisava estava em uma pasta de documentos em sua mesa de carvalho envernizada.


Eu fiz a varredura das linhas, procurando um valor aproximado direito sobre a época que mamãe apareceu em nossa casa, com dois berços. Eu não sabia o quanto ela tinha gasto come os berços e os assentos de carro, mas eu sabia que estaria aqui. Então eu achei: um cheque cancelado para De Felice Mobiliário Família de 849 dólares e setenta e três centavos. Eu olhei para seu endereço e anotei, eles seriam a minha próxima parada.


Renée entrou com alguns papéis que eu precisava assinar para fechar as contas e finalizar a venda da casa. Tudo estava sendo realizado em uma conta de confiança, que tinha sido criada há muito tempo. Eu não sabia disso.


"Seus pais nomearam um administrador muito tempo atrás, por isso, em caso de eles morrerem enquanto você era menor, você ainda teria os fundos para pagar a faculdade. Obviamente, essa lei não se aplica mais. Então você tem acesso livre ao dinheiro. É uma conta remunerada durante precisamente 25 anos. Se você gerenciá-lo com cuidado, você nunca terá que trabalhar de novo em sua vida. Especialmente uma vez que a venda da casa seja finalizada." Sra. Harvey olhou por cima da montanha de papéis que ela estava organizando para eu assinar.


“Perdão? Quanto dinheiro tem na conta?” Coloquei a imitação de caneta Montblanc no topo dos papeis.


“Hm, deixe-me ver o extrato... Ah, sim, aqui. De acordo com a data do ultimo extrato, que é de cerca de 3 semanas atrás, há aproximadamente 600 mil dólares na conta. Seu pai fez alguns ótimos investimentos, e ele era evidentemente um homemeconômico. Agora, lembre-se, esse número inclui também o que restava de suas contas conjuntas. Com a venda da casa, você vai ter um pouco mais de um milhão. Não muito pelos padrões de hoje, mas nada desprezível." Sra. Harvey me entregou um pedaço de papel, meu extrato bancário, aparentemente.


Por um lado, eu estava exultante. Isso significava se eu poderia encontrar uma maneira de deixar Phillip, eu não estaria desamparada. Por outro lado, se ele sabia, ele iria encontrar uma maneira de me matar apenas pelo dinheiro. Eu não posso explicar como ou por que eu cheguei a essa conclusão, mas eu sabia que era tão certo como o nascer do sol.


Eu a agradeci, assinei o que precisava ser assinado e dirigi até a De Felice Mobiliário Família. Eu olhei para a loja, e parecia uma casa decrépita. Eu entrei lentamente, e fui recebida por um velho e entediado homem.


"Posso ajudá-la, senhora?" Ele perguntou, encostado a um balcão de vidro riscado.


"Eu espero que sim. Eu preciso saber o que foi comprado com este cheque. Eles eram meus pais, e eu sou a executora de sua propriedade. Estamos tentando esclarecer algumas coisas sobre suas contas bancárias. Eu posso lhe dar a documentação que você precisar." Eu sorri o mais cativante que pude, e deslizei uma cópia do cheque cancelado.


“Eu sou Alex, dono da loja. Vou precisar de algum documento de identificação e algum documento que diga que tenho que te dar essa informação, se eu ainda tiver.” Ele olhou para um arquivo de metal que ladeava um pequeno escritório. Não parecia promissor.


"Claro! Eu compreendo totalmente, aqui está o meu RG. E aqui está a papelada fornecida por meu advogado, que mostra tudo que eu disse." Eu os entreguei a um Alex muito cético, que olhou para eles como se tivesse sido entregue algo que estava tentando provar a existência de aliens.


"Vou ter que olhar os meus velhos recibos de venda. É quase hora de fechar, sendo assim você vai precisar voltar amanhã, patroa. Volte ao meio-dia, e se eu tiver alguma coisa- ou nada- eu vou deixar você sabe." Alex empurrou o balcão com os antebraços, nossos negócios do dia concluídos. Eu sorri e agradeci-lhe novamente, e dirigi até meu hotel para encontrar algo para comer.
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CONTINUA...

Acho que meu marido fez alguma coisa com um dos gêmeos - Parte V

Caso não tenha lido a parte 1,clique aqui -PT 4-)
Semanas se passaram em uma névoa, eu nem sei quantas. Meus dias e noites eram círculos infinitos de mamadas, fraldas trocadas e cochilos. Phillip passou a primeira semana de vida de Henry em casa com a gente e eu mantive minhas emoções muito bem guardadas. Ignorei a exaustão de ter um recém-nascido o melhor que pude. Eu dormia quando Henry dormia, e só ficava realmente acordada por três ou quatro horas durante o dia. Durante esse tempo eu ia tomar banho, comer e tentar cuidar de toda aquela roupa.


Phillip, por sua vez, agia como se aquela cena horrível no quarto dos bebês nunca tivesse acontecido. Ele me trazia refeições caseiras, colocava Henry para dormir e me ajudava com a casa. Quando ele voltou a trabalhar, dava beijos de despedida em mim e em Henry toda manhã e sussurrava num tom de ameaça não tão velada “Não vá se meter em confusão”. Quando ele saia, eu chorava até adormecer ao lado de nosso filho.


Eu sabia que estava caminhando rapidamente para uma severa depressão pós-parto, mas a quem eu poderia pedir ajuda? Phillip nunca iria permitir que eu procurasse um conselheiro ou terapeuta, para que ninguém conhecesse minha versão da história. Eu tinha que me lembrar de tomar banho e escovar os dentes antes do meu marido chegar em casa, então pareceria que eu tinha me importado com este dia. Eu colocava a pouca energia que tinha no pequeno Henry, que era um bebê incrivelmente bonzinho. Eu me sinto uma pessoa horrível só por dizer isso, mas acho que eu não poderia ter lidado com um bebê com cólicas, que não quisesse comer ou não dormisse bem. Eu sinto como se com tudo o que aconteceu, eu tivesse que ter batalhado e lidado com isso. Mas se ele tivesse sido qualquer coisa menos que bonzinho, não poderia dizer com certeza se não haveria outra morte na família. Nós gostamos de pensar em mães como sendo capazes de suportar absolutamente tudo pelo amor que sentem por seus filhos, mas todos e cada um de nós temos um ponto de ruptura. É um ponto discutível agora, eu suponho. Henry ainda está aqui, assim como eu.


Eu não tinha certeza do que estava acontecendo. Ou eu estava maluca ou Phillip tinha feito alguma coisa com a nossa menininha. Será que eu estava sofrendo de algum tipo bizarro de gravidez psicológica? Eu tinha ouvido falar de mulheres tão desesperadas para engravidar que elas apresentavam todos os sintomas, incluindo o trabalho de parto e a lactação, tudo isso para encontrar um útero vazio e dilatado. Será que no meu subconsciente eu queria tanto uma menina que eu imaginei ela e o ultrassom que mostrava seu rostinho? Talvez o tratamento duro de Phillip era uma maneira dar um choque de realidade. Este amor duro era uma maneira de conseguir me mostrar que Jéssica nunca tinha existido? Isso explicaria tanto! Isso explicaria o comentário que ele tinha feito durante o ultrassom! E porque ele nunca reconheceu roupinha que eu tinha escolhido.


Mas por que Todd e meus pais tinham concordado com farsa? Havia uma vila em Amsterdã para pacientes com Alzheimer que aparentemente funcionava como qualquer outra cidade. Correios, supermercado, cinema. Mas na verdade era um novo tipo de “casa de repouso”, onde todos estavam de fato sendo cuidados. O leiteiro era um enfermeiro, assim como o carteiro. Eles achavam que, deixando os pacientes pensarem que tudo estava bem e normal, seria melhor para eles a longo prazo. Até agora eles estavam certos, era um sucesso esmagador. Era essa a essência geral por trás de Todd e meus pais concordando com a minha imaginada Jéssica? Talvez a ideia fosse manter isso durante nove meses e, uma vez que eu não tinha visto a menina, Phillip cuidaria de como me dar a notícia. Afinal, o parto era um dos momentos mais íntimos entre marido e mulher.


Eu me perguntei brevemente por que, se esse realmente fosse o caso, ninguém tinha insistido para que eu recebesse algum tão necessário tratamento psiquiátrico? Acho que sabia a resposta, e era um monstro de duas cabeças. Phillip e eu tínhamos convênio médico, mas não era tão abrangente. Eu trabalhava para uma pequena empresa e o convênio era decente, mas não cobria nada relacionado à saúde mental. E também era insanamente caro. Com Phillip, tivemos o problema oposto. O dele era muito mais acessível, mas era uma porcaria. Acho que, com todo o dinheiro que estávamos gastando com a casa e as contas com médico que sempre aumentavam, talvez ele tivesse decidido que não poderia pagar mais uma conta e que iríamos lidar com essa merda em casa. Tenho que dar os créditos pela inspiração em Jane Eyre. Talvez ele não quisesse passar pelo constrangimento de ter uma esposa louca. Phillip estava pronto para assumir seu departamento, ir a reuniões importantes, entreter executivos. Mesmo que a empresa não pudesse dizer abertamente que lhe negaria promoções por ter uma mulher louca, seria óbvio. Se escapasse que sua mulher estava inventando um bebê que não existe e ameaçando ir parar no manicômio, sua carreira seria efetivamente encerrada. Na profissão que ele havia escolhido todos se conheciam. Não demoraria para que todos soubessem que Phillip tinha uma esposa na ala psiquiátrica. Uma esposa no manicômio e um bebê recém-nascido em casa era uma situação que consumiria muito tempo, e havia muitas outras pessoas sem envolvimentos desse tipo. Essas pessoas poderiam dedicar todo seu tempo e energia a suas respectivas empresas.


Isso não mudava o que Todd tinha me contado sobre a infância de Phillip. Eu tinha que acreditar, pelo pouco que restava de minha sanidade mental, que Phillip sentia um pedacinho de tristeza genuína por suas ações. Ainda... ainda. Phillip dizia que eu tinha um trabalho e que eu tinha feito isso muito bem: eu tinha lhe dado um filho. Eu tinha imaginado isso também? Ou só tinha interpretado suas palavras de forma sinistra? Ele quis dizer que eu tinha lhe dado um menino saudável, bom trabalho Isabelle? Meus hormônios ainda estavam em fúria nesse ponto, não seria impossível eu ter interpretado mal suas palavras. Pelo amor de Deus, eu me lembro de uma vez na cozinha, quando eu estava grávida de quatro meses, que ele fez salada caesar quando eu queria tacos. Ele disse que tinha esquecido de comprar carne moída no supermercado e eu explodi em lágrimas e me revoltei contra ele, gritando que se ele realmente me amasse, teria lembrado de comprar carne moída. Então, para mim, interpretar mal o que ele havia dito não era inteiramente impossível.


Uma noite, cerca de quatro meses ou mais após Henry nascer, eu decidi abordar o assunto com Phillip. No pior cenário, ele diria a mesma coisa que me disse antes e minhas suspeitas seriam confirmadas. Mas se meus instintos estivessem certos, ele prontamente concordaria comigo. Seria muito mais fácil ter que admitir à esposa que ela havia tido um surto psicótico momentâneo e que estava melhor agora, que pedia desculpas e agradecia a seu marido por toda sua devoção. Afinal, ele estava preso no dilema em que Maquiavel colocou o mundo: é melhor governar através do amor ou do medo? Se eu o deixasse acreditar que eu tinha sido desequilibrada, Phillip poderia me governar através do amor. Seja lá qual era a definição de amor dele. Mas como as coisas estavam, Phillip ainda me governava pelo medo. Eu sabia que ele mexia no meu celular; eu tinha o pego fazendo isso com o pretexto de estar procurando um número de telefone. Meu laptop tinha misteriosamente contraído um vírus, fritando a placa mãe. Desde então, nós compartilhávamos um desktop e eu tinha a sensação de que ele tinha instalado um programa que registrava cada palavra que eu digitava. Eu não me atrevia a dirigir a qualquer lugar além do supermercado ou, ocasionalmente, o café a 30 minutos da nossa casa, para um café e um bolo.


Naquele dia eu limpei a casa de cima a baixo, enquanto um Henry sorridente e borbulhante observava de sua cadeirinha. Fiz seu prato favorito para o jantar: quiche Lorraine, torrada de pão francês, feijão verde fresco cozido e peras cozidas no mel e canela para sobremesa. Abri a garrafa de um vinho delicado para acompanhar o jantar, virando uma taça para me dar coragem e acalmar meus nervos. Tomei banho, depilei as pernas, enrolei meu cabelo e borrifei seu perfume favorito – Shalimar by Guerlain – atrás de minhas orelhas e no meu cabelo. Nunca fui de usar vestido ou saia, em vez disso optei por um jeans matador. Alimentei Henry, que agora já comia cereal de arroz junto com a mamadeira, e esperei Phillip chegar.


Seu timing não poderia ser mais perfeito. O quiche estava sobre a mesa, as peras estavam sendo mantidas aquecidas no forno e eu estava colocando o feijão verde na mesa. Henry estava roendo um palitinho de waffle quase congelado para aliviar a dor de um dente que estava tentando rompes suas gengivas delicadas.


“Ei, o que é isso tudo?” Phillip olhou para a mesa duvidosamente, colocando sua pasta no chão perto da porta.


“Há algo que eu quero falar com você, e eu pensei que talvez uma boa refeição ajudasse.”


“Isa...” Phillip se serviu de uma taça de vinho, suspirando. Ele afundou em sua cadeira, sorrindo para Henry.


“Não, não, eu acho que você vai concordar com o que eu tenho a dizer. Mas antes de chegar ao assunto, por que não comemos um pouco primeiro? Quiche não é bom frio.”


Sorri tremulamente, cortando e servindo um grande pedaço para meu marido visivelmente desconfortável. Coloquei feijão verde em seu prato, servindo-me de porções muito menores. Eu estava com fome, mas não tinha certeza se poderia manter muita coisa no estômago. Esperei até que ele comesse metade do que estava no prato, oferecendo uma conversa vazia sobre nosso dia. Ouvi atentamente ele contando as labutas de seu escritório, balançando a cabeça e dizendo as frases adequadas nos momentos adequados. Cautelosamente, eu beberiquei um gole de meu vinho. Eu queria a cabeça clara para o que estava prestes a acontecer.


“Amor, eu acho que sei o que aconteceu com Jéssica.” Disse silenciosamente, vendo a reação dele bem de perto. Phillip não vacilou, nem por um segundo. Ele estava no meio de um gole e colocou a taça de volta na mesa. Calmamente, ele perguntou:


“Ah, você sabe, não? E o que você acha que aconteceu com Jéssica?” Ele levantou as sobrancelhas, colocando uma garfada de feijão verde em sua boca. “A propósito, excelente trabalho pelo feijão.”


“Eu, oh, obrigada! Phillip, nunca houve uma Jéssica. Eu fiz algumas pesquisas sobre gravidez psicológica, quando mulheres desejam muito engravidar elas apresentam todos os sintomas, até um teste de gravidez positivo! Mas elas não estão de fato grávidas. Eu acho que em algum lugar negro e profundo da minha psique, eu queria tanto uma menina que eu enganei a mim mesma pensando que estava grávida de um menino e uma menina. Por isso que a enfermeira, Dr. Keats, todos eles estavam tão confusos e preocupados quando eu perguntei onde Jéssica estava depois que Henry nasceu.” Fiz uma pausa, olhando apreensiva para meu marido. Ele repousou o garfo, ouvindo atentamente com uma expressão neutra em seu rosto. Eu levei isso como um bom sinal e segui em frente.


“E eu acho que você pediu para todos concordarem comigo por alguma razão. Eu sei que nosso convênio não é tão bom, então talvez você não quisesse custear um psiquiatra. Então você disse para meus pais e para o Todd apenas concordarem, eu descobriria em breve. Phillip, eu quero que você saiba que eu sinto muito por ser uma idiota sobre isso. Mas, por favor, entenda, eu realmente acreditava que Jéssica era real! Eu honestamente acreditava que estava grávida de um menino e uma menina! Não consigo imaginar a dor e angustia que fiz você passar, me desculpe. Mas eu te amo tanto, tanto por fazer isso. Você só fez o que achou que fosse melhor para mim, e eu te odiei por isso naquele momento. Phillip, me perdoe. Agora eu vejo que isso era o melhor para mim, para você e, mais importante, para nosso filho. Phillip, eu te amo. Eu amo Henry.” Enxuguei lágrimas em meus olhos, e estranhamente passou por minha cabeça que eu estava agradecida por ter a prudência de usar máscara de cílios à prova d’água.


“Isa... você não tem ideia do quão feliz eu fico em ouvir você dizer isso. Eu não sabia o que fazer. Não foi o custo que me impediu de te levar a um psiquiatra. Foi meu amor por você. Eu sabia que se você ao psiquiatra, eles te trancariam e jogariam a chave fora. Você entregaria Henry e nunca mais o veria. Eu te amo demais para impedir que você nunca veja nosso filho, e amo muito Henry para deixar isso acontecer. Eu sabia que você cairia na real. Ah, Isabelle, eu odiei ser um bastardo com você. Eu tive que convencer seus pais, Todd, e eles não gostaram nem um pouco. Mas eles também te amam, então eles concordaram. Isabelle, eu te perdoo.” Phillip pegou minha mão e me puxou para um beijo. Ele me beijou suavemente nos lábios, meu pecado foi absolvido.


Phillip lavou a louça enquanto eu dava banho em Henry e o colocava para dormir. Eu não tinha plena certeza se eu acreditava na história que tinha acabado de tramar, mas parecia tão boa quanto qualquer outra. Ou eu acreditava na ficção que estava vendendo, ou acreditava que tinha dado à luz uma menina que tinha desaparecido misteriosamente e estava no centro de um enorme acobertamento. Nenhum era muito provável, mas minha história era mais que a outra. Phillip entrou no quarto de Henry, encostando-se à porta enquanto eu colocava nosso filho no berço.


Seus braços cercaram minha cintura e eu senti seus lábios em meu pescoço. Phillip respirou profundamente, seu nariz em meu cabelo.


“Hummm, Shalimar. Meus Deus, Isabelle, eu te amo. Vamos para a cama.” Nós fizemos amor pela primeira vez em quase um ano. Carinhosamente, docemente, descobrindo um ao outro como se fosse a primeira vez. Nós adormecemos abraçados e, pela primeira vez em um ano, eu respirei aliviada.


Acordei na manhã seguinte, seu lado da cama vazio. Fingi continuar dormindo, como se pudesse estender a mágica da noite anterior. Ouvi Phillip no telefone, não era comum. Normalmente ele odiava falar ao telefone. Ele usava o telefone no máximo no escritório, ele tinha um celular só por que era uma necessidade de trabalho. Então eu estava curiosa para saber o que era tão importante para ele ligar às 6 horas da manhã.


“Não, essa é a parte maluca. Ela falou tudo isso. Isabelle pensa que imaginou Jéssica! Ela me pediu desculpas! Não, eu ainda acho que você deve manter os registros em local seguro. Por que você não pode se livrar deles de novo? Ah, certo. Sim, escritório da Dra. Whiting. Ei, problema resolvido afinal. Tenho que ir, nos falamos mais tarde. Vejo você esta tarde, doutor.”


Ouvi seus passos vindo para o quarto e virei de costas para a porta. Phillip entrou em nosso quarto carregando Henry e deitou na cama, nosso filho entre nós. Senti-o se inclinando para me dar um beijo e lutei contra a vontade de agarrar seu rosto. Eu rolei, sorrindo sonolenta.


“Bom dia, meninos. Vocês dois estão com fome, um de vocês pode se alimentar aqui. O que você disse Henry? Você acha que eu consigo convencer o papai a fazer as próprias torradas esta manhã?” Henry simplesmente me olhou enquanto tomava seu café da manhã direto do meu peito.


“Posso fazer melhor e fazer torradas para nós dois.” Phillip falou, vestindo suas calças.


“Meu masterchef!” Respondi me levantando da cama. Phillip riu e correu escada abaixo. Eu lutei contra as lágrimas enquanto olhava para meu filho, tentando obter algumas respostas hoje.


Alguns minutos depois, Phillip voltou com dois copos de café e um grande prato com torradas. Agora que Henry tinha se alimentado e arrotado, ele estava batendo alegremente um chocalho contra seus joelhos. Eu engoli o café, mordisquei a torrada e vi meu marido se vestir para o trabalho.


“Phill, eu quero tentar aquela nova receita grega que te mostrei essa noite. Quero comprar queijo feta da Paraskevi na cidade, eles têm o melhor. Por que não almoçamos juntos? Seria legal, eu raramente vou à Boston.” Eu sorri excitada.


“Ah, amor, se fosse outro dia eu diria sim. Mas não tenho nada além de reuniões e conferências durante todo o dia. Nem tenho certeza de que horas estarei em casa. Eu compro um pouco de feta antes de voltar para casa, e faremos outra noite, quando eu tiver certeza que estarei em casa às cinco. Sinto muito, Isa. Tenho que ir, amo vocês!”


Eu fiz beicinho como apropriado e, a “contragosto”, concordei. Esperei 45 minutos depois que seu carro antes de colocar Henry no assento e dirigir até Boston.


Eu dirigi pelas ruas laterais, tendo o cuidado de evitar as ruas principais. Eu não queria arriscar que um de seus colegas de trabalho me visse, ou algum cliente. Eu tinha um destino: consultório da Dra. Whitings. Eu parei no Centro Médico de Boston, estacionando em um canto escuro e perto das escadas de seu antigo consultório. Perguntei à recepcionista como obter meus registros e ela prontamente me disse para descer até o andar de baixo, no setor de registros. Brenda, nos registros, me disse que depois que preenchesse as fichas e pagasse as taxas para cópias dos registros, ela me chamaria em uma semana.


“Uma semana?” Me senti como um balão murchando.


“Depois que a Dra. Whiting... faleceu, a maioria de seus pacientes foram transferidos para outros consultórios. Mas você decidiu procurar outro médico em outro hospital, o que está certo. Mas esses registros estão em arquivo agora e leva um tempo até desarquivá-los. Então eu te ligo em uma semana, Sra. [em branco].”


“Deixa eu te falar, eu vivo num fim de mundo. O serviço de celular e incrivelmente fraco, na melhor das hipóteses. É por isso que vivemos lá. Por que eu simplesmente não volto aqui daqui uma semana em vez de você me ligar? Pode ser?” Brenda apenas colou um post-it em meu pedido, que dizia “Virá retirar. Não ligar” e acenou com a cabeça, nossa interação claramente tinha terminado.
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CONTINUA...

Acho que meu marido fez alguma coisa com um dos gêmeos - Parte IV

(Caso não tenha lido a parte 1,clique aqui -PT 3-)
Todd pegou o telefone, soando convincentemente feliz. “Phillip, cara, não tem quase nada para eu fazer aqui. Acho que preciso contratar uma grávida para trabalhar para mim, ela fez tudo por aqui... hum... Você não se lembra? Na semana passada! Recebi uma mensagem de texto pedindo para dar uma passada aqui. Ah, certo... Não, ela está bem. Phillip, sim. Claro, não se preocupe. Claro, fala com ela.” Todd não tinha quebrado o contato visual comigo e continuava me olhando quando me entregou de volta o telefone.


“Oi, amor!” Eu falei nervosamente, enquanto tirava o cabelo dos olhos.


“Isabelle, querida. Eu não lembro de ter pedido ao Todd para passar aí, então eu quero que você peça para ele ir embora, está bem? Ele sempre teve inveja de quem eu era, e sempre fez “piadinhas” sobre o quão sexy você é. Essa história está um pouco assustadora. Só estou preocupado que ele esteja aí para tentar alguma coisa com você. Eu te amo, Isabelle. Por favor, basta tirá-lo da nossa casa.” Minha cabeça estava girando, eu nunca tinha percebido segundas intenções em Todd. Teria sido distraída a esse ponto? Ou Phillip estava tentando tirá-lo daqui por outro motivo?


“Está bem, Phillip. Farei isso. Tenho que desligar. Te amo.” Fechei a tela e coloquei o telefone na mesa.


“Todd, acho melhor você ir agora.”


“Isa, eu não sei o que Phillip te disse. Mas há uma última coisa. Não pense nem por um minuto que ele vai se importar com a Jéssica. Nunca.”


“Não foi o que você disse literalmente três minutos atrás! Agora vai, e não volte!” Tentei ficar de pé para dar mais ênfase a minha fala, mas tive medo de que acabasse parecendo uma tartaruga tentando sair do casco.


“Três minutos atrás eu não tinha falado com Phillip. Mas se você quer que eu vá então tudo bem, eu vou. Mas se lembre que ele nunca se desculpou por Leslie. Adeus, Isabelle.” Todd bateu a porta. Caí de volta no sofá, entre soluços. Meu telefone tocou de novo e eu atendi cheia de raiva.


“O QUE É?!”


“Hum, oi para você também, Isabelle.” Merda, era o Jackie, meu chefe.


“Desculpe, Jackie, pensei que fosse outra pessoa. O que houve?”


“Não posso dizer. Você pode vir aqui amanhã assim que acordar?”


“Por que preciso ir assim que acordar? Há algo errado com meus documentos? Eu chequei duas vezes com o RH, repouso absoluto conta como afastamento por doença e a papelada foi aprovada há duas semanas. Tudo o que tenho que fazer é avisar quando os gêmeos nascerem.” Quebrei a cabeça tentando pensar na razão pela qual tinha sido convocada a ir ao escritório de forma tão abrupta.


“Não, não é isso. É sobre o departamento. Não tenho permissão para discutir isso pelo telefone. Odeio ter que fazer isso com você, te vejo amanhã em meu escritório às 8 horas. Sinto muito, Isabelle.” Jackie não parecia sentir muito, mas, novamente, alguma merda tinha acontecido.


Eu tinha o peso do mundo nas costas. Phillip tinha matado Leslie, não tinha como contornar isso. Talvez ele nunca tenha tocado no assunto por estar envergonhado e arrependido. Talvez por isso ele fosse tão apático quando o assunto era Jéssica. Talvez ele estivesse com medo de me dizer e eu pensar que ele era um psicopata. Na verdade eu achava que ele era. O que tinha feito Todd vir até aqui? Era porque eu estava grávida de um casal de gêmeos? Ou Todd era um babaca, tentando de um jeito estúpido me fazer trocar Phillip por ele? Eu não tinha pensado nisso. Meu Deus, tudo estava muito além da imaginação. E agora eu tinha que dirigir mais de uma hora até Boston por uma coisa que eu tinha certeza não ser um par de banheiras para bebês.


Cheguei em casa no dia seguinte por volta das dez. Estive chorando desde as nove, soluçando pesadamente. Nosso departamento estava sendo fechado. Era um departamento relativamente pequeno, éramos apenas seis. Um casal de veteranos tinham se aposentado e estavam a caminho da Flórida e da sala de bingo, respectivamente. Jackie e os outros foram transferidos para outros departamentos, exceto eu. Eu era inelegível. Na verdade, assim que minha licença maternidade terminasse, eu seria demitida. Entre o relatório estragado, a perda de e-mails e ligações, meu desempenhohavia sido abaixo da média. Não me lembro de ter perdido e-mails ou não ter atendido chamadas, mas não podia questionar; estava chocada. Jackie disse que a empresa não iria se opor sobre meu pedido de demissão, considerando meus anos de empresa. Assinei toda a papelada, limpei minha mesa e saí.


Phillip chegou em casa tarde, por volta das onze da noite. Contei sobre o fim do departamento, excluindo a parte sobre eu não ser elegível para transferência. Phillip me abraçou e acariciou meus cabelos, e finalmente perguntou:


“Todd causou algum problema? Desculpe não ter te contado, querida, não quis te preocupar.” Eu enrijeci, imaginando que rumo tomar.


“Não, eu disse que não estava me sentindo bem e queria ficar sozinha. Não tive notícias dele desde então, você teve?”


“Isso é bom, isso é bom. Não, eu não tive notícias dele. Nem acho que terei, infelizmente. Não gostei dele ter aparecido. Bem, seus pais estarão aqui na próxima semana. E em duas semanas nós teremos noites de sono bem mais curtas.”


“Isso supondo que eles nascerão na data exata. Os bebês quase nunca nascem na data planejada. Especialmente gêmeos. Mas vai ser bom ter ajuda enquanto eles estiverem aqui. Ah, eu quero tanto conhecer os bebês. Aposto que Henry tem o mesmo topete que você.” Eu segurei a mão dele sobre a minha barriga, sentindo os bebês se acotovelando.


“Dr. Keats disse que se você passar de 39 semanas, ele induzirá o parto. E eu não acho que seja má ideia.”


“Vamos ver o que acontece, mas eu concordo.” Eu bocejei e peguei um remédio. Andava tendo crises de insônia e o Dr. Keats disse que esse remédio me ajudaria e que era seguro. Dei um beijo de boa noite em meu marido e caí num sono sem sonhos.


Acordei com uma dor excruciante. Deixei escapar um grito animal, apertando minha barriga dura feito pedra. Phillip deu um pulo, me olhando com uma combinação de horror e medo. A dor irradiava de minha barriga inchada, minhas costas, e foi diferente de tudo o que já tinha sentido. Os livros e a internet não chegavam nem perto de explicar isso. Olhei da minha barriga para entre minhas e notei que minha camisola estava encharcada.


“Phillip, eu estou em trabalho de parto! Acho que minha bolsa estourou! Rápido, chame o Dr, Keats, ai, meu Deus, isso dói! AAAAH!” Eu gritei de novo, o suor escorrendo da minha testa e lábio superior. Phillip já estava discando desajeitadamente para o Dr. Keats, mantendo um olho em mim e o outro na tela do telefone.


“Dr. Keats? Oi, é o Phillip [em branco], marido da Isabelle. Acho que ela está em trabalho de parto. A bolsa estourou e as contrações estão... amor, de quanto em quanto tempo você está tendo contrações?”


“Eu não sei, porra! Talvez um, dois minutos?! Merda, como eu pude dormir com isso?” Eu gritei, com uma mão na barriga e outra nas costas. Como posso descrever a dor? Pense em sua coluna tentando se separar fisicamente de seu corpo. E seu estômago virando pedra. É como ser agarrado por uma mão de ferro que se recusa a liberar suas garras. Mordi o lábio para não gritar e senti o gosto de sangue.


“Ok, certo, estamos a caminho.. Certo, encontro você aí.” Phillip desligou o telefone e agarrou um par de jeans. Enquanto ele vestia uma camisa suja, eu perguntei:


“O que está havendo? O que o Dr. Keats disse?” Eu estava tentando ficar calma mas tinha medo de não ter sucesso.


“Ele disse que você está num estágio muito avançado para arriscar te levar até o hospital. Ele vai nos encontrar na clínica. Sua bolsa está no carro; deixe-me ajudar com o casaco e com os sapatos. Você acha que o remédio te ajudou a dormir durante toda a fase inicial do trabalho de parto? Isabelle. Pare. Pense. Essa hora amanhã... nós seremos pais. Antes de sair, eu quero que saiba uma coisa: Se você multiplicar todas as estrelas do céu, por todos os grãos de areia de todas as praias, você ainda não chegará perto do quanto eu te amo. Agora vamos!” Phillip nervosamente sorriu, eu puxei meu casaco enquanto saíamos.


Dr. Keats estava destrancando a porta quando chegamos na clínica. As contrações vinham quase a cada minuto, eu tentava não gritar para não assustar Phillip, mas isso doía como o inferno. Dr. Keats fez um sinal para esperarmos e em um segundo veio me encontrar na porta com uma cadeira de rodas. Eu fui levada até a sala de parto, onde eu fui prontamente colocada na maca e meus pés colocados em estribos. Eu implorei por uma epidural, mas Dr. Keats me deu uma olhada e disse que não havia tempo para isso.


“EMPURRE, ISABELLE, EMPURRE!” Dr. Keats gritava com autoridade, Eu empurrei com toda força que tinha, rangendo meus dentes, soltando um gemido gutural no processo. Eu podia sentir algo acontecendo, mas não sabia o que. Continuei empurrando e só parei quando Dr. Keats que já era suficiente. Deitei a cabeça de volta na fronha de papel, me sentindo doente.


“Ok, Isabelle, mais um empurrão e você consegue. EMPURRE!” Dr. Keats ordenou e eu obedeci. Senti como se tudo abaixo da cintura estivesse em chamas e, dessa vez, eu não me contive. Soltei um grito do fundo de meus pulmões, minhas unhas cavando as mãos de Phillip. Segurei o impulso por dez segundos, contando na minha cabeça, um dois três quatro cinco seis sete oito nove dez... Ouvi um choro, senti uma lufada de ar. Então tudo ficou preto.


Quando acordei, olhei à minha direita. Phillip estava dormindo pesadamente. Olhei para baixo, minha barriga ainda estava inchada, mas pastosa. Tudo veio como um flash. Eu tinha vindo aqui para dar à luz meus gêmeos! Olhei para a sala em pânico, mas não vi nenhum berço ou bebês. Onde estavam meus bebês?


“Phillip, Phillip, acorda! Onde estão os bebês? Onde estão meus gêmeos? Como estão Henry e Jéssica? Por que não estão aqui? Quanto tempo eu dormi? Eles estão bem? PHILLIP!” Eu gritei, balançando as pernas sobre a cama e sendo saldada por uma dor tão grande que me fez querer vomitar.


“Isabelle, você está acordada! Fica calma, calma. Henry está bem. Você ficou desacordada por cerca de dois dias. Você perdeu muito sangue. Vou pedir para a enfermeira trazê-lo aqui dentro.” Phillip apertou o botão “chamar enfermeira” enquanto caminhava até mim.


“Henry, mas e a Jéssica? Onde ela está? Eu tive gêmeos, onde está Jéssica? Eu quero ver meus dois bebês” Eu gritei, tentando desesperadamente não soar histérica.


“Enfermagem, em que posso ajudar?” A voz veio de uma caixa de som na minha cama.


“Oi, aqui é do quarto 104. Nós queremos nosso filho, por favor.” Phillip falou muito naturalmente.


“Isabelle, que gêmeos? Nós tivemos um filho, Henry. Não sei do que você está falando. É um efeito colateral da medicação? Nós tivemos só um bebê, Henry. Não há gêmeos, Isabelle. Eu não sei quem é Jéssica. Você pensou que nós teríamos uma menina? Porque nós temos um menino, Henry Sebastian.” Phillip explicou pacientemente. A enfermeira trouxe um berço de rodinhas com um bebê enrolado num cobertor branco.


“Enfermeira, onde está o outro bebê? Eu tive uma menina, eu tive gêmeos! Onde ela está? O nome dela é Jéssica, eu tive gêmeos, ONDE ESTÁ MINHA MENININHA?!” Eu berrei, olhando descontroladamente da enfermeira para meu marido. A enfermeira parecia confusa e lançou um olhar preocupado a Phillip.


“Sra. [em branco] há somente um bebê... E ele está aqui, um menino saudável.” A enfermeira estava claramente desconfortável.


“NÃO! Não, eu tive gêmeos! Um menino e uma menina! Henry e Jéssica e eu não sei que merda de brincadeira vocês estão tramando, mas eu quero minha filha! Onde está Jéssica? Eu quero ver a Jéssica! Não estou louca, os exames, os ultrassons, tudo mostrava que eu estava grávida de gêmeos! UM MENINO E UMA MENINA, ME DÊ MINHA GAROTINHA!” Gritei e o bebê no berço começou a chorar com o barulho. Phillip acenou para a enfermeira, que pegou uma seringa. Comecei a me debater na cama, mas ele me segurou, dizendo palavras suaves em meu ouvido. A enfermeira injetou algo em mim e eu desmaiei.


“Isabelle? Isabelle, você está se sentindo bem?” Dr. Keats estava inclinado sobre mim, a feição muito preocupada. Eu só queria perguntar onde estava minha bebezinha estava, mas algo dentro de mim me segurou.


“Só um pouco confusa. Onde está Phillip?” Esfreguei minha cabeça, parecia que pesava uma tonelada.


“Tenho más notícias. Phillip foi buscar seus pais no aeroporto ontem. Havia muito gelo na estrada; o carro capotou e rolou. Seus pais não tiveram culpa. Phillip está no hospital, ele está bem, mas será mantido lá pela noite para observação. Isabelle, eu sinto muito.” Dr. Keats olhava para suas mãos, como se isso lhe desse algum jeito mágico para entregar esse golpe esmagador.


“O que você quer dizer? Meus pais estão mortos? É o que você quer dizer?” Eu estava chorando e soluçando muito, soluços terríveis.


“Isabelle, eu sinto muito. Eles não sobreviveram ao acidente. Phillip deve ser liberado ainda hoje, se tudo estiver bem. Isso deve ser horrível de se ouvir, especialmente nesse momento. Agora me diga, o que é isto que ouvi sobre uma história de gêmeo?” Dr. Keats olhou por cima do meu prontuário de forma inquisitiva.


“Sim! Eu tive uma menina, Jéssica, não tive? Ou é algo que aquele remédio me fez sonhar?” Ri nervosamente, sentindo meu estômago afundar.


“Não há nada em seu prontuário que indicasse gêmeos. Apenas um lindo e saudável menino. Henry, estou certo? Ele nasceu exatamente às duas horas, com 3,175kg. Eu posso trazê-lo aqui se você quiser.” Dr. Keats olhou para mim com o rosto cheio de perguntas. Eu sabia que o modo como eu respondesse determinaria se eu ira ou não ver o meu bebezinho.


“Sim, por favor. Quero amamentá-lo o quanto puder.” Comecei a desabotoar meu vestido, em preparação para meu filho. Dr. Keats assentiu com aprovação, e como que por magia, meu filho foi levado até mim.


Henry era um lindo menino. Ele sugou meu peito avidamente. Enquanto se alimentava, olhei cada centímetro dele. Ele tinha dez longos dedos nas mãos, e dez deliciosamente beijáveis dedinhos nos pés. Ele tinha meu tom de cabelo loiro sujo, mais macio que pena de ganso. Seu queixo era pontudinho e angular, assim como o de Phillip. Ele era tão pequeno, tão vulnerável. Ele não era maior que meu antebraço, e estava acariciando alegremente meu peito. Sua pele era aveludada, eu a acariciava com os dedos e cantava canções de ninar em seu ouvido. Eu senti um amor que nunca tinha sentido antes. Eu soube então, naquele instante, que o que quer que acontecesse, eu ficaria feliz em morrer por ele. Em qualquer dificuldade, eu sofreria por ele de bom grado, se isso significasse a felicidade dele. Qualquer dor que ele sentisse, eu sentiria dez vezes. Chorei tranquilamente, sabendo que este pequeno ser, meu filho, meu Henry, tinha mudado minha vida de uma maneira que eu jamais saberia.


Eu mal tinha começado a compreender o quanto minha vida tinha mudado.


Na manhã seguinte, Phillip veio com uma dúzia de rosas. Deixei escapar um grito involuntário ao vê-lo, e eu braço livre estendeu a mão para ele, meu outro braço embalando Henry. Ele tinha um olho roxo e um a tipoia no braço esquerdo. Ele colocou as rosas sobre a mesa de cabeceira e beijou nossas cabeças.


“Meus pais...” Eu disse, minha voz vacilante e lágrimas escorrendo pelo meu rosto.


“Isa, eu sinto muito. Sinto muito mesmo. Assim que Henry estiver alimentado, pediremos sua alta e iremos embora, está bem? Acho que será melhor para todo mundo se estivermos em casa.” Phillip sentou-se aliviado na cadeira ao meu lado, fazendo uma careta. Eu assenti com a cabeça. Uma hora depois, a enfermeira entrou com os documentos da alta médica e nós pegamos nosso caminho para casa.


Eu queria tanto dizer alguma coisa sobre Jéssica. Eu sabia muito bem que ela não era algo que eu tinha criado como uma loucura. Indo para casa iria provar isso. Dois assentos no carro. Haveria dois berços. Dois enxovais de roupa. Além disso, Todd sabia que eu estava grávida de gêmeos, ele me apoiaria, certo? Tinha de haver algum registro de Henry e Jéssica! Eu não estava louca. Eu queria pegar minha menina, mas da última vez que tentei tinha sido drogada, eu estava com medo. A enfermeira não sabia que eu tinha gêmeos. Dr. Keats não sabia que eu tinha gêmeos. Phillip agia como se eu nunca tivesse carregado gêmeos em minha barriga.


Bem. Então. Quem era o louco?


Quando chegamos em casa, peguei Henry e tudo, mas corri até o quarto dos bebês, totalmente preparada para fazer um escândalo. Eu abri a porta para encontrar... um berço.


“Qual o problema, querida? Você parece perdida.” Phillip veio atrás de mim, a imagem de um marido adorável.


Eu coloquei Henry para dormir no berço e, lentamente, virei para encará-lo.


“Eu sei que tinham dois berços nessa porra de quarto não tem três dias. Eu ia ter gêmeos. Phillip, caralho, onde está a minha menina?”


“Isabelle, eu acho que deve ser algum tipo de depressão pós parto ou algo assim.”


“VÁ SE FODER, PHILLIP! EU NÃO ESTOU LOUCA! Três dias atrás haviam dois assentos no carro, dois berços e dois enxovais neste quarto. Eu dei à luz dois bebês, um menino e uma menina. Henry Sebastian e Jéssica Marie! Eu não sei que merda está acontecendo, mas minha bebezinha está desaparecida. Existem pessoas que sabem sobre ela. Meus pais, meus colegas de trabalho, Todd, Dra. Whiting, Dr. Keats, todos eles sabem que eu estava esperando dois bebês. O QUE VOCÊ FEZ COM A JÉSSICA, SEU DOENTE FILHO DA PUTA?!” Eu gritei, meu rosto vermelho e lágrimas escorrendo livremente pelo meu rosto.


O rosto de Phillip ficou de um jeito que nunca tinha visto antes. Era um rosto de fúria e desgosto. Ele me agarrou pela garganta e sibilou em meu ouvido:


“Você diz que são dois, eu digo que é um. Há um berço, um assento, um nascido vivo. Seus pais estão mortos, Dra. Whiting está morta, quando foi a última vez que viu seus colegas de trabalho? Todd? Ele dirá qualquer coisa que eu quiser que ele diga. Dr. Keats? Ele está sendo muito bem pago. Você tinha uma tarefa, minha querida, e você a executou muito bem. Você me entregou um filho. Se você pensa que alguém irá acreditar em você sobre Jéssica, você está tremendamente enganada. Todos pensarão que é depressão pós parto. Você me entendeu?!” Eu assenti com a cabeça o mais claramente que pude e Phillip me soltou.


“Agora vá e amamente meu filho.” Phillip me encarou e eu senti minha blusa sendo molhada pelo leite que escorria.


Peguei Henry rapidamente, me afundei na cadeira de balanço e chorei silenciosamente.

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CONTINUA...

Acho que meu marido fez alguma coisa com um dos gêmeos - Parte III

(Caso não tenha lido a parte 1,clique aqui -PT 2-)
Eu me mexi desconfortavelmente no sofá, lutando contra a onda de náuseas que me invadia.


"Você precisa entender o pai do Phillip, Louis. Louis era um filho da puta. Ele casou com Claire, a mãe de Phillip, estritamente para reprodução. Sei que soa como besteira nos anos 2000, porra, até nos anos 70 isso era besteira. Mas a família de Louis tinha algum laço obscuro do passado com a Dinastia Romanov, e para Louis, Alexei era uma vergonha para a Rússia. Havia algo errado com Nicolau se este foi o melhor que ele pode fazer por um filho e herdeiro do trono. Louis pessoalmente acreditava que havia algo errado com a czarina, Alexandra, como se Deus já não houvesse amaldiçoado as mulheres para começar. Ela deve ter pecado muito para dar à luz um filho deformado."


Todd parou, vendo o olhar de desprezo e horror em meu rosto. E então continuou.


"Louis era um otário. Claire o amava, acredito eu. Ou pelo menos gostava dele. A família de Louis possuía uma quase bem sucedida empresa de transporte, ABC Shipping. A família de Claire mal era alfabetizada, ela era a mais velha de sete irmãos. Ela ter concluído o Ensino Médio era um grande feito em sua família. Acho que ela estava deslumbrada com o charme do velho mundo e sim, com o dinheiro dele. Eles estavam casados e não havia muita pressão para Claire engravidar logo – só se fosse um filho. Filhas não tinham qualquer utilidade para Louis. Filhas não poderiam herdar a ABC Shipping. Louis precisava, como se costuma dizer por aqui, de ‘um herdeiro e uma reserva’ Ele não queria arriscar e ter um filho incapaz de gerir a empresa. Claire teve sorte, ela engravidou em poucos anos. Phillip quase a matou, ela ficou em trabalho de parto por três dias. Louis não estava lá, ele não apareceria a menos que ele recebesse a notícia de que era seu tão esperado filho. Minha mãe estava lá, por isso eu sei de tudo isso. No entanto, assim que Phillip nasceu, Louis passou a ser mais agradável com Claire, mas não por muito tempo. Ele estava muito animado por ter seu herdeiro, mas havia muita pressão para ter o segundo. Claire queria engravidar novamente, ela realmente tentou. Não porque quisesse, mas porque Louis a deixaria.”


“Por que eles não se divorciaram?”


“Claire era Católica. Você não se divorcia sob essas circunstâncias. Claire teve alguns abortos espontâneos, o tempo todo Louis estava perto dela. Finalmente ela ficou grávida e não abortou. Agora lembre, todo esse tempo estava sendo dito a Phil que ele estava destinado à grandeza por seu pai. Que o sol nasce e se põe por sua causa. Louis também dizia que uma filha era legal, mas apenas se você já tivesse dois filhos. Coloque o mínimo de tempo e esforço para criá-las como puder e então as case o mais breve possível. Phil foi encorajado a tirar sarro de sua mãe por não conseguir manter uma gravidez. Sua pobre mãe. Ela apenas olhava como se toda sua esperança tivesse se esvaído, ela sempre parecia tão triste. Phillip e eu brincávamos juntos e sua mãe dava o que queríamos. Biscoitos, doces, bolos, o que fosse. Phil nunca ouvia ‘não’. Então Leslie nasceu. Louis estava furioso com ela, porque tinha levado uma eternidade para engravidar de novo e tinha o descaramento de ter uma menina. Dava para ouvir os gritos e a briga a um quarteirão. Louis começou a se envolver com outras mulheres, como se sua vida dependesse disso, e ignorava Claire. Phil batia em Leslie quando ela chorava, e odeio dizer isso, mas eu achava engraçado. Você beliscava ela, ela chorava. Você batia nela, ela chorava ainda mais. Isso era doentio. Claire nos mantinha fora da casa tanto quanto podia, apenas para que ela pudesse ter um tempo sozinha com a filha que só ela se importava.”


Não consegui me segurar, corri para a pia da cozinha. Tudo o que tinha comido na semana foi para fora. Olhei para Todd, que estava pálido e suado. Fiz um gesto para que ele continuasse, imaginando que diabos eu tinha deixado entrar na minha casa e com que diabos havia me casado.


“Phil decidiu que sua mãe estava demorando demais quando Leslie chorou. Claire dormia a maior parte do tempo, e tinha começado a beber muito. Então Phil deveria só... colocar sua mão sobre a boca. Claire sempre o pegava a tempo, ela cuidaria de tudo o que Leslie precisasse. Mas na noite em que Leslie morreu... Você está bem, Isabelle? Tem certeza de que quer ouvir isso?”


Eu balancei a cabeça, atormentada pelo que eu já tinha ouvido. Trouxe meus joelhos o mais perto do peito possível, um gesto de defesa para proteger a vida crescendo dentro de mim.


“Phillip acordou naquela noite e me pediu para pegar um copo d’água. Seja qual fosse o motivo, não importa. Ele puxou o cobertor sobre a cabeça da Leslie até que ela parou de respirar. Ele disse que tinha sido muito fácil, ela era tão pequena, nem chegou a lutar. Ele sabia que seu pai não ficaria tão aborrecido, mas sua mãe diria alguma coisa à polícia. Foi por isso que ele disse que havia ouvido um barulho e ela estava roxa. Ele dizia que meninas eram inúteis, e por causa de Leslie seu pai nunca estava em casa. Então, sim, a polícia questionou todos eles. Mas quem vai suspeitar de um garoto de sete anos? Os policiais, os assistentes sociais, os enfermeiros, todos eles, só percebiam que ele estava em choque.”


“Todd... Você está me dizendo que meu marido matou a irmã a sangue frio?”


“É um jeito de enxergar isso.”


“E de que porra era para eu enxergar isso? ELE MATOU A IRMÃ!”


“Isabelle, você tem que entender que o pai dele nunca quis uma menina. Nunca. E ele passou isso a Phil. Phillip só pensou que estava fazendo o que seu pai queria. Alguma vez te ocorreu que Phillip tem o nome de um rei? Ou rei Louis? Ou rei Henry? Ou rei Sebastian? Mas Leslie? Isso é apenas um velho sobrenome Escocês, e confie em mim, isso foi intencional. Claire queria algo que tivesse a ver com essa besteira de herança e realeza. Phillip realmente pensava que estava fazendo a coisa certa. Se livrou de Leslie, o pai estava feliz. Claire se suicidou um ano depois e Louis nunca se casou novamente. Eram apenas os dois, o pai o batia por qualquer coisinha, mas sempre dizia que alguém grande como ele não poderia fazer nada errado. O problema é que ele nunca expressou qualquer culpa. Nunca. Você pensaria que vendo sua mãe se matar e seu pai ser um desgraçado cruel o faria pensar duas vezes, mas isso não aconteceu. Ele agiu da mesma forma que você agiria se tivesse pisado num inseto. Minha mãe se sentia muito mal por ele, sempre o chamávamos para jantar, ele sempre dormia em casa. Minha mãe era dona de casa, assim como a maioria das mães. Acho que isso fez mais mal do que bem, ele via minha mãe cozinhando e limpando para meu pai, meu irmão Tom e para mim, o que reforçou sua ideia de que mulheres estavam aqui para servir. Quando Louis morreu, a ABC Shipping morreu junto com ele, Phillip não provou ser bom o suficiente, eu acho. Caso você esteja se perguntando, sim. Louis fez saber que ele considerava Phil um fracasso e não, eu não sei o porquê.”


Eu sentei ali, tremendo e gelada. Phillip... Louis... Leslie. Ok, certamente ele havia mudado desde então. Quero dizer, Cristo todo poderoso. Ele não me considerava uma égua parideira, ele me tinha como esposa. Ele me amava, ele dizia isso. Eu sabia. Jessica estava trazendo lembranças de Leslie, e ele sentia vergonha disso. Tinha que ser isso, devia ser isso. Precisava que essa fosse a única emoção que Phillip estivesse sentindo. Louis era um filho da puta de coração frio e implacável. Mas por que então Phillip insistia em carregar a tradição de dar ao nosso filho o nome de um rei? Talvez fosse uma forma de reconhecer seu pai e encerrar o ciclo. No entanto, por que então ignorar Jessica?


“Isabelle? Está tudo bem? Ei, eu tenho certeza que está tudo bem com ele agora. Quero dizer, ele está emocionado por se tornar pai! Tenho certeza que ele mal pode esperar para conhecer seu menininho e sua menininha. Tenho certeza de que ele simplesmente não quer ser lembrado de Leslie. Você devia ouvir como ele fala...”


“Sobre Henry.” Eu disse calmamente.


“Bem, é, mas isso é só um homem sendo homem.”


“Se ele matou a própria irmã, então porque você ainda é amigo dele? Mantenha seus inimigos por perto, é isso? Você tem medo dele? Quer saber, Todd? Acho que você tem. Por que você mentiu para Phillip e disse a ele que estava me contando sobre uma árvore e uma garota em vez de Leslie naquele dia na festa? Por que só agora eu estou descobrindo sobre isso? Alguma vez te ocorreu que ele matou a irmã e a esposa está grávida de uma menina que ele nunca fala sobre? Merda, Todd, Jessica também pode deixar de existir!”


“E se eu tiver um pouco de medo dele? Eu estava no exército, eles pagaram minha faculdade. Eu posso cuidar de mim mesmo. Phillip, ele é só um...”


Meu telefone tocou. Phillip. Eu nunca quis tanto ignorá-lo. Mas eu sabia muito bem que se eu não atendesse, ele ficaria ligando e ligando, então eu atendi.


“Phillip! Saudade de você! Como está Schenectady? Achei fofo você pedir pro Todd ver se está tudo bem comigo.” Rezei para todos os santos para que eu pudesse me concentrar em algo bom e soasse como se nada estivesse errado.


“Todd está aí? Não me lembro de ter pedido para ele ir te ver. Me deixe falar com o velho Todd por um segundo.”


Foi com o estômago embrulhado e as mãos tremendo que eu estendi meu telefone para alguém que eu ainda não tinha certeza que podia confiar.
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CONTINUA...