sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Um destino pior que a morte

Levou apenas alguns segundos. Três, para ser exato. Lembro-me perfeitamente de cada nanossegundo, com detalhes perfeitos. Detalhes extremamente terríveis.

Lembro-me dos sons.

Ah, como eu detesto aqueles sons. Lembro-me dos sons de seus gritos, os sons de seus ossos sendo esmagados e cortados. Eu podia ouvir o resto da minha família. Seus gritos insuportáveis, as lamentações intermináveis de meus irmãos e parentes. Lembro-me do estalar dos meus próprios ossos. Lembro-me de ter gritado, e do som estridente de aço retorcido e as buzinas dos carros. É até engraçado como o som do estado de uma coluna pode destruir uma vida. É engraçado como aquele pequeno pedaço de pele era tudo o que ficava entre a vida e a morte.

Eu me lembro do cheiro. Cheirava a gás, fogo e sangue.

Eu me lembro do sabor. O gosto de sangue, suor, óleo e metal é mortificante, palavras não podem descrever o sabor terrível dessa combinação. Eu podia sentir a minha vida desaparecendo. Eu podia sentir meu corpo se desintegrando. Eu poderia sentir meu tempo se acabando. Então cumprimentei meu fim de braços abertos.

Mas a parte triste, porém, foi que eu fui trazido de volta da morte. Eu então estou aqui deitado, apodrecendo na minha miséria. Despojado de todo resto de dignidade que eu já tive. De cada pingo de humanidade que eu uma vez já tive. Eu estou sozinho, preso. Minha mente nunca vai descansar. Eles não vão parar. Eu costumava pensar que tudo que eu queria era paz e solidão. Aqui eu tenho tempo para pensar, para ficar sozinho com meus pensamentos e minha mente. Eu não queria isso. Eu não preciso disso. Mas eu não tenho nenhuma saída.

Sento-me sozinho no hospital onde estou sob os cuidados deles. Isolado de tudo que eu já tive, todos que eu já conheci. Eu tive décadas para pensar, refletir, sempre solitário. Eu até mesmo me tornei um grande filósofo de tanto que vaguei pelos meus pensamentos. Eu sei por que estamos aqui. Eu sei o que vai acontecer depois com todos nós. Ah, como o destino é cruel.

Eu sei todas as respostas, no entanto, eu não posso falar.

Eu não posso me mover.

E muito menos gritar.

fonte: 
http://creepypasta.wikia.com/wiki/A_Fate_Worse_Than_Death